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  • Não é disso que precisamos salvar a natação

    07/11/2013 por Beatriz Nantes em Home, Notícias, Opinião / Sem comentários

    Não queria começar jogando baixo, mas sugiro ver essa prova antes de ler o texto. Com Thorpe e Grant Hackett de sunguinha, um dos melhores 400 livres de todos os tempos. Pode passar a introdução inicial, a prova dura pouco mais de 3 minutos:

    O 100 livre pode até ser a prova mais nobre da natação (e eu confesso que a arquibancada silencia de um jeito muito particular antes da largada do 50 livre), mas não tem como não achar esse 400 livre uma prova emocionante e maravilhosa, mesmo durando quatro vezes mais do que um 100 livre – até porque, 3 minutos não matam ninguém. Achei interessante a discussão levantada por Pieter van den Hoogenband e trazida pelo Daniel Takata, mas não acredito que essa mudança prenderia mais a atenção do público ou levaria a maior valorização das medalhas, como Pieter propõe.

    Já faz um tempo que o COI vem tentando popularizar as Olimpíadas. Tenho ouvido muita gente dizer que é um absurdo um esporte como o ciclismo BMX, incluído em 2008, ser olímpico. Depois foi recomendado tirar a luta olímpica do programa (ainda bem que voltaram atrás). Não tenho opinião totalmente formada sobre esse tema “deixar as Olimpíadas mais atrativas ao público”, e sei que o balanço entre tradição e novidade é sempre difícil, sobretudo quando temperado por esse componente capcioso que é a audiência de TV e patrocínio.

    Mas me parece que a natação não está nesse fogo cruzado. Os ingressos para natação nas Olimpíadas de Londres eram dos mais caros entre todos os esportes, a demanda superou a oferta. Ainda do Brasil, tentei comprar ingressos para uma eventual ida para Londres. Em vão. A agência tinha ingressos diretos para esgrima, ginástica, judô, atletismo, mas para natação, “eles chegavam e acabavam na hora” (estranhamente, estavam disponíveis para quem fechasse os pacotes completos incluindo hotel e transporte por preços bem salgados, mas isso é outra história).

    Tive o privilégio de estar em Barcelona, no Mundial de longa disputado esse ano. Não, as arquibancadas não estavam completamente lotadas. Mas estavam bem cheias. Torcedores da China, do Brasil (que foram lá só para ver o Mundial! – sim essas pessoas existem), de toda Europa (muitos franceses, como a Marsellesa depois dos revezamentos não me deixa mentir), norte-americanos, lituanos (efeito Ruta). Natação nunca vai ser futebol, e isso não é um problema. Temos nosso público, temos pessoas apaixonadas e aficcionadas, e temos também a audiência do grande público, que talvez não vá ver todas as provas, mas verá a maioria delas.

    O modelo atual me parece bom – oito dias de competição, com no máximo duas horas de duração. Não dá tempo de cansar no mesmo dia, e a competição dura vários dias, o que é muito legal para quem gosta muito, e também permite a quem gosta mais ou menos de natação que vá apenas nos dias das provas/atletas que mais gosta. Talvez pudessemos ter as duas horas de duração em apenas seis dias? Para mim seria uma pena, mas pode ser. Acabar com as semifinais para as provas de 200 (ou talvez para todas?) faz sentido. Deixar as provas de 50 estilo fora também me parece o mais certo – assim como parar de criar  revezamentos novos. Mas tirar do programa provas que já tem toda tradição? Para que? Talvez chegue um dia em que a natação esteja em baixa, mas esse dia ainda não chegou – graças, em grande parte, ao Phelps. Nada como um ídolo como ele para ajudar a atrair a atenção para um esporte. Quem foi o nome de Atenas, Pequim e Londres? Foi o Phelps. Pode até ter sido ele junto com mais alguém, mas o nome de Phelps com certeza está na lista.

    É claro que sempre haverá quem diga que “não é tão difícil ser um Phelps, a natação tem tantas provas”. Mas vocês acham mesmo que esse argumento pararia se diminuíssemos em 10 provas o programa? Sempre haverá um Pieter van den Hoogenband para quem um 100 livre é sagrado e um 400 livre não (“ah, já tem o 1500 para quem nada fundo..” ok, vamos tirar o 50 livre ja que já temos o 100 então para ver o que ele fala…). Assim como sempre haverá quem ache que esporte coletivo vale mais que individual, e o contrário, ou quem ache que alguns esportes são fracos e “se eu treinasse era capaz até que fosse para as Olimpíadas”. Não podemos formular as regras para essas pessoas!

    Não temos, infelizmente, competições toda semana – isso não é culpa da mídia, mas da natureza desse esporte. Natação é uma modalidade de poucos grandes eventos, e parte da beleza dela está nisso, assim como a beleza do futebol está em acompanhar seu time na tabela toda semana. Esperamos (eu espero) ansiosamente, para a cada quatro anos ver aquele um 200 borboleta que vai marcar história, com dois Mundiais de longa neste interím. Quatro anos de espera para ver aquele 200 medley absurdo de Lochte e Phelps em Shangai, esse 400 livre aqui em cima, aquele 200 borboleta do Chad Le Clos contra o Phelps, aquele 800 livre da Janet Evans.

    Precisávamos salvar a natação quando os trajes saíram do controle, e acertadamente a FINA o fez. Precisamos salvar a natação do maldito doping que todo ano mancha nosso esporte. Mas não precisamos matar a natação dando um tiro no pé da sua história.

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