É muito difícil tirar qualquer conclusão da primeira competição de Thorpe após o anúncio de que está de volta às piscinas. A escolha de duas provas que estão longe de ser sua especialidade já foi estratégica para isso. O que dá para dizer: Thorpe está em forma, seu crawl no medley estava estranho (braçada curta, muito diferente do estilo que assombrou o mundo no início da década passada). Pouco além disso.
Seu técnico disse que queria reacostumá-lo às competições e realmente acho que essa parte é muito importante. Depois da primeira prova, os 100 medley que classificou em 6o e terminou a final em 7o, Thorpe disse: “I’m happy. It’s nice to get the first swim out of the way. I was a little bit nervous before. I [was] not as bad as I thought I would be, though. I didn’t vomit or anything. I can’t remember the race, don’t know if it was any good or not. I came second, I’m glad I have another opportunity for a final tonight. I’m sure once I watch the video there’ll be things that I can work on and it’s my first swim I’m glad it’s out of the way.”
Já depois de nadar as eliminatórias do 100 borboleta e ficar de fora da final com 54.09, Thorpe esteve mais reticente. Deu declarações dizendo que precisa se comparar com onde estava há 12 meses mas confessou estar desapontado porque esperava estar mais rápido e com detalhes técnicos melhores. Importante também foi que percebeu que ainda tem um caminho para converter seus progressos nos treinos em progresso na competição.

O jornalista Mike Colman escreveu um texto curioso comparando a volta de Thorpe e de Geoff Huegill, especulando sobre os motivos de cada um. Enquanto Huegill nunca chegou a ser tão vitorioso quanto Thorpe (ainda que tenha sido um grande nome da natação australiana, recordista mundial e medalhista olímpico) e se viu diante de um problema médico, chegando a pesar 140 kg após parar, Thorpe não tem nada faltando em seu currículo, e ao contrário não chegou a engordar de forma tão preocupante mesmo tendo saído de forma. Especulando sobre os motivos que fizeram Thorpe encarar uma volta tão dura, ele diz acreditar que Thorpe estava entediado e nunca esteve tão feliz nos últimos cinco anos como agora: “I reckon he’s making this comeback because he was bored. (…) Did you see how his eyes were sparkling as he answered the questions at those press conferences? He hasn’t looked so happy for five years. He loves the attention, the competition, the cheers, the cameras. He’s hooked on it every bit as much as Huegill was hooked on pizza and beer”.
É difícil mesmo entender porque Thorpe está voltando, mas duas coisas me parecem claras: 1) é muito difícil voltar. Pergunte a qualquer ex atleta de alto nível, ou mesmo algum que treinava sério mas não chegou a ser profissional. Uma vez fora da rotina, a parte psicológica é complicada, e entrar em forma depois de anos parado não é fácil (não apenas emagrecer, mas treinar 8km por dia, dobrar treinos, a semana inteira). Se treinando diariamente é difícil melhorar tempo, o que dizer da dificuldade com esse longo tempo afastado; 2) Não sei se Thorpe estava entediado, mas é realmente complicada a vida depois de parar. Não é fácil para ninguém ser ex atleta, particularmente para quem sempre brilhou. Não apenas porque sente falta dos louros da vitória e do reconhecimento, mas porque os objetivos no esporte, para quem é atleta, muitas vezes se confundem com os objetivos de vida. É preciso estar preparado para deixar os treinos e não ter mais uma Olimpíada por esperar, uma marca para bater, um adversário que imaginar antes de dormir.
*
Para terminar, mais um dos muitos vídeos para ilustrar o que significa Ian Thorpe. Revezamento 4×100 livre em Sidney, 2000. A Austrália, em casa, abre com Michael Klim nadando para 48.08, recorde mundial da prova e colocando uma diferença boa frente os EUA, campeões da prova nas últimas quatro edições dos Jogos. Mas os EUA tiraram a diferença com os outros nadadores e para fechar, o velocista nato Gary Hall Jr. caiu com boa vantagem sobre Thorpe, um meio fundista que não tinha nos 100 sua especialidade, e já nos primeiros 50 metros ficou mais para trás. O que se viu foi Thorpe com um final alucinante passnado Gary Hall no final e levando o ouro para a equipe da casa. (Interessante que o tempo de Thorpe nem foi tão fantástico como o de Lezak em 2008. Ele nadou para 48.30, pior até do que o tempo de Klim abrindo; o que impressiona é a imagem dele chegando no final).
Deixe um comentário