“Hoje eu tive a melhor notícia da minha vida”. Foi assim que Alexandra Nascimento resumiu, para o jornalista Guilherme Costa, da Rádio Bradesco Esportes FM, o prêmio de melhor jogadora do mundo de handebol em 2012. A premiação veio após votação no site da IHF (Federação Internacional de Handebol). Ela teve 28% dos votos, contra 24% de Heidi Löke (Noruega) e Bojana Popovic (Montenegro). 
O começo na modalidade foi similar à maioria de atletas brasileiros: ainda criança, aprendeu a jogar na escola. Nascida em Limeira, ela foi para Vila Velha (ES), onde cresceu. O handebol é um esporte peculiar no Brasil: amplamente difundido nas escolas, é difícil encontrar quem nunca tenha tido contato com a modalidade na infância e adolescência. Mas isso não se traduz em uma liga nacional forte ou em uma Confederação ativa no uso do potencial desse esporte.
Em 2000, com 19 anos, Alexandra saiu de Vila Velha para São Paulo, onde passou a atuar no Jundiaí. Convocada para a seleção brasileira júnior em 2000, ela chegou dois anos depois à seleção adulta. Não demorou para que fosse contratada pelo Hypo, da Áustria, um dos melhores clubes da Europa. Reduto de brasileiras hoje em dia, são oito jogadoras do país defendendo as cores do time. Em abril de 2012, a notícia de que o contrato de Alexandra foi renovado por dois anos pelo Hypo foi destaque nos sites especializados – Györ Hungria e do Valcea Romenia já tinham propostas para a jogadora, cobiçado pelo seu desempenho. Torcedores e dirigentes comemoraram.
Se Alexandra é essencial para o Hypo, o Hypo foi essencial para ela. O time foi mesmo o salto de patamar para a jogadora, que antes, no Brasil, treinava de 3 a 4 vezes por semana, uma vez por dia. Um vídeo de 2006, não mais disponível, traz declarações de seu técnico do Hypo falando sobre como ela era extremamente talentosa, faltando apenas aprimorar-se taticamente. Alexandra fala como foi difícil se adaptar ao treinamento 7 dias por semana, duas vezes ao dia. Um ano antes, ela ainda sofrera uma fratura por stress na tíbia direita, ficou dois meses de cama e disse que chegou a pensar em parar de jogar. Mas continuou, a adaptação veio. E deu resultado.
No Mundial de 2011, disputado no Brasil, Alexandra foi a artilheira da competição. Na Champions League, principal campeonato de clubes na Europa, ela foi a segunda maior goleadora na temporada 2009-2010 e a quinta melhor na temporada anterior. Nas Olimpíadas de Londres, foi a quarta a fazer mais gols, mesmo com dois jogos a menos do que as seleções que avançaram para as semifinais.
Não é difícil encontrar menções sobre Alexandra quando partimos para sites gringos, em especial de países que tenham o handebol como um de seus esportes mais tradicionais.
O espanhol Deporte Cien por Cien fala em espetáculo e estética na mesma jogadora. “La calidad de esta balonmanista está fuera de toda duda y quizá sea la mejor en su demarcación, lanza 7 metros, su ejecución es sobresaliente e incluso dispone de la capacidad para lanzar desde 8 o 9 metros en transición a la parte central. Espectáculo y estética en una misma jugadora.” A própria IHF não economiza nos adjetivos: “Nascimento is a brilliant counter-attack specialist and as cold as ice from the penalty spot.” [Nascimento é brilhante no contra ataque e fria na cobrança de penâltis]. Nas Olimpíadas, ela fez parte do all star team, eleita a melhor em sua posição.
Apesar do destaque individual e das atuações brilhantes no Mundial e nas Olimpíadas, Alexandra saiu com gosto amargo das duas competições. Ainda dói a eliminação do Brasil, ambas as vezes nas quartas de final em condições dramáticas: no Mundial foi por um gol, em contra ataque nos últimos segundos da partida contra a Espanha, e nas Olimpíadas foi após voltar do intervalo com vantagem de seis gols sobre a Noruega.
Fica para o Rio-2016. E até lá tem muita coisa. No final deste ano pode vir a primeira revanche: tem Mundial na Sérvia, em dezembro. Alexandra, fatalmente, estará lá.
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