Esporte em Pauta

Contato

Súmula

  • Reportagens
  • Personagens
  • Memória
  • Coberturas
  • Opinião
  • Passaporte carimbado: Leo de Deus

    17/07/2013 por Beatriz Nantes em Coberturas, Destaque, Natação, Os Brasileiros / 2 Comentários

    Leonardo de Deus tem 22 anos e, nas suas palavras, “já viu tudo que tinha que ver”. Atleta do Corinthians desde o início do ano, depois de deixar o grupo de alto rendimento PRO-16, Leo viaja na sexta-feira para seu segundo Mundial de piscina longa buscando se surpreender. Em Shangai, há dois anos, se classificou das eliminatórias com o segundo tempo, mas na semifinal sentiu a pressão e acabou em 13o. “Agora chegou a minha hora”, conta o atleta nesta entrevista, em que fala de sua trajetória, do momento difícil pós Olimpíadas de Londres, da escolha do Corinthians, de porque ficou no Brasil quando teve propostas para sair e faz planos para frente: “Eu penso todos os dias em 2016″.

    Você foi semifinalista olímpico no 200 costas e após o Maria Lenk estava até melhor no ranking mundial nesta prova. Mas sua prova preferida é o 200 borboleta?

    Sim, o 200 borbo

    E como está a sua expectativa para o Mundial de Barcelona?
    Eu já venho de Shangai, meu primeiro mundial de longa, em 2011, quando eu fui semifinalista. Passei das eliminatórias com o segundo tempo e na semifinal senti toda aquela pressão. Já fui semifinalista olímpico também. Esse foi um ano de mudança, sai do Flamengo e do PRO-16 e vim para o Corinthians. Muita coisa mudou, acho que minha fisiologia está melhor para o 200 borboleta e 200 costas. Então eu estou esperando me surpreender no mundial. Espero fazer meus melhores tempos, me sinto como nunca senti antes. Estamos na reta final, faltam 17 dias para eu pular na água e nadar esse 200 borboleta [a entrevista foi concedida no sábado; hoje, já são apenas 13 dias]. Agora é so esperar.

    Como foi a vinda para cá, e por que o Corinthians?
    Esse ano aconteceram muitas mudanças na natação brasileira. A saída da Patrícia [Amorim, presidente do Flamengo na última gestão], o fim da equipe absoluta do Flamengo. Isso movimentou toda a natação brasileira, atletas ficaram sem clube, a natação ficou conturbada. Eu estava treinando no PRO e já estava vendo que não estava dando certo, estava querendo achar o que era melhor pra mim.

    Foto: Satiro Sodre/SSPress

    Eu tive propostas de outros clubes, e vim aqui conversar com o Carlos Matheus e vi que era o que eu queria. Eu precisava que fosse um clube grande e me desse estrutura como o Corinthians está dando. Já fizemos treinamento em altitude, competimos nos EUA, isso tudo quem estava bancando era o Corinthians. Eu precisava de um time forte, de um trabalho bom, e de um técnico que estava na mesma sintonia que eu, jovem, e com vontade de conquistar as coisas comigo. Isso pra mim foi o mais importante nessa escolha.

    No PRO você treinava com as maiores estrelas da natação brasileira, Cielo, Thiago…
    Sim, e eu treinava com o Albertinho, que trouxe as medalhas do Cielo e do Thiago Pereira. Mas era aquilo, a gente estava em uma equipe de estrelas. Quase todos os melhores atletas do Brasil estavam lá, mas comecei a sentir que precisava caminhar com minhas próprias pernas, que precisava de um trabalho para mim, de um técnico para conquistar as coisas do Leonardo de Deus, e não ficar na sombra do Cielo e do Thiago. Eu vi que ficando no PRO-16, depois do resultado do Cielo, que não foi o que a gente esperava, não ia dar certo. Eu precisava ver o que era melhor pra mim. Acertei em cheio no que eu queria para minha carreira.

    Você comentou que sentiu a pressão em Shangai. Como trabalhou isso para as Olimpíadas e como trabalhou o que aconteceu em Londres também?
    Eu tinha 20 anos em Shangai, era meu primeiro Mundial e minha primeira competição internacional para valer. Cheguei na eliminatória e classifiquei em 2º, do lado dos melhores do mundo, ninguém sabendo quem eu era. Na semifinal eu viajei. Porque é um show de natação, não é só um campeonato. Eu me deslumbrei com tudo aquilo, e acabei me perdendo na hora de nadar. Fiquei em 13º, fora da final.

    Um ano depois eu tinha crescido muito, e fui para as Olimpíadas. Cheguei com o 6º tempo do mundo, e sai sem nem classificar para semifinal. Foi onde muita coisa esclareceu na minha cabeça. Você se pergunta: o que eu tô fazendo? O que tenho para melhorar? Se você acha que trabalhou tanto, não classificar nem entre os 16, você para e pensa, algo de errado eu fiz. Passando a Olimpíada foi uma fase muito difícil para mim. O que eu senti, a amargura e tristeza do resultado, eu cair e ter que me levantar. E nem um ano depois estar indo pro mundial, animado, motivado, na minha melhor da forma, no meu melhor peso e força.

    Campeão no PAN-2011 (Foto: Satiro SodrŽ/AGIF)

    Tenho 22 anos e eu vi tudo que eu tinha que ver. Agora não tem mais desculpa. Já fui para Mundial de longa, de curta, Olimpíada, agora chegou minha hora. Estou me sentindo bem, motivado e feliz onde eu estou. Se Deus quiser, as coisas boas vão surgir.

    Você nada primeiro o 200 borboleta, prefere assim ou era melhor algo antes para quebrar o gelo?
    Eu estou acostumado a nadar primeiro o 200 borboleta, sempre é assim. Mas tô cogitando a hipótese de nadar um 400 livre na primeira etapa. Eu fiz um tempo forte no Brasileiro em Curitiba, e é uma prova que hoje o Brasil não tem muitos atletas. Talvez eu nade essa prova no Mundial para quebar o gelo. Mas ainda estamos vendo, viajo na sexta-feira e vamos decidir.

    Do jeito que você fala me parece que você, o Ernesto e o Carlão estão numa sintonia muito boa.
    Todo mundo até brinca, você e o Ernesto estão parecendo irmãos. E o Carlão também, estamos treinando em horário separado, tendo tratamento especial, que é o certo. O alto rendimento tem que ter isso, um técnico para você, puxando orelha toda hora. O Ernesto veio de situação difícil, eu fiquei sem clube, vim de resultado ruim, o Carlão também passou por dificuldades pessoais, então a gente superou tudo isso. Estamos bem, fazendo um treino melhor que o outro. Amanhã é o melhor treino da minha vida, e depois de amanhã é o melhor treino da minha vida também, e ai em diante. Superamos as dificuldades e nos levantamos, estamos bem no momento certo. Agora é aproveitar isso e colher os frutos, a gente merece .

    Nas categorias de base você nadava várias provas, 400 livre, 1500 livre, fundo, borboleta, costas. Em que momento começou a focar no 200 borboleta?
    Esse momento para o atleta é muito importante. No infantil, juvenil, eu nadava todas as provas. Nadava de 100 livre a 1500, todos os estilos, menos peito que eu sempre fui uma negação. Sempre tive esse cuidado, meus técnicos e meu pai, que sempre foi muito estudioso, sempre falou para eu nadar tudo, e quando entrasse no absoluto eu especificaria na principal prova. Até hoje se me colocar para nadar qualquer prova, eu tenho uma base.

    Acho que hoje no Brasil as crianças estão especificando muto cedo em uma prova, não sei se isso é certo. Tem que nadar tudo, e especificar conforme fica mais velho. Foi o que eu fiz e deu certo. Nos EUA os caras treinam tudo, nadam uma prova atrás da outra nas competições, acho que é importante pro crescimento do atleta.

    Você chegou a pensar em ir treinar lá?
    Quando eu tinha 17 anos fui chamado para nadar em Auburn e também em Michigan. Mas uma dificuldade para mim é que eu sempre fui muito família. Cresci com minha família do lado e no esporte eles sempre estiveram comigo. Foi difícil tomar essa decisão, porque para mim todo mundo que vai bem vai para fora. Eu pensava que tinha que ir, mas não queria largar da minha estrutura, família, da minha comida. Para um garoto de 17 anos, ir pra lá sozinho não é facil.

    Não foi fácil decidir, mas eu conversei e decidi ficar aqui, trabalhar, e falei para minha família: “prometo que vou conquistar minha medalha olímpica  treinando no meu país”. Acho que foi essencial que sempre tive clubes que me apoiaram, todos que eu passei. Ano passado eu terminei em 15º do ranking mundial. E esse ano estou com chances de brigar pelas provas que vou competir no Mundial. Eu preferi ficar no meu país e construir minha medalha aqui.

    Maria Lenk 2013 (Foto: Satiro Sodre/SSPress)

    Você pensa em medalha pra 2016 então.
    Eu penso todos os dias em 2016. É lógico que antes tem o mundial de Barcelona, o Pan Pacífico, o Pan-americano, onde eu quero ser bicampeão. É uma escada, tem que ir um de cada vez. Mas a todo momento eu estou visando Rio -2016. Até porque uma Olimpíada no nosso país vai ter uma visibilidade tremenda. Visibilidade, dinheiro, futuro, tudo. A gente treina tanto, abdica de tudo, para lá na frente virar o que?

    Eu quero ser medalhista olímpico dentro do meu país. Depende de mim e de quem trabalha comigo, mas a gente está no caminho certo e acredita na medalha em 2016. E tem que confiar, porque se eu não acreditar quem vai acreditar?

    Como você se comporta nos treinos? Gosta de treinar, fica triste se nada mal?
    Atleta de alto rendimento é meio louco. A gente sempre quer chegar no nosso limite. Eu venho todo dia para o treino como se fosse uma competição. Toda série é uma competição, toda série tem que ser no máximo. Isso faz o atleta amadurecer. E faz parte abdicar de tudo também. Eu fico triste quando nado mal, mas faz parte.

    Está fazendo faculdade?
    Não. Depois desse Mundial, se Deus quiser eu vou estar com a cabeça mais tranquila e posso ver isso. Esse ano foi de transição, eu mudei de casa, de clube, preferi me estabilizar.  Eu tenho 22 anos, no momento o mais importante é a minha carreira.

    Eu sei que estudar é importante mas infelizmente no Brasil não dá para estudar e treinar em alto rendimento. Não é que nem nos EUA, que você faz tudo no mesmo lugar. E eu sou jovem, meu pai está fazendo pós em marketing agora, meu avô se formou em Medicina com 40 anos. Eu posso estudar depois, mas nadar eu tenho um tempo, estou aproveitando meu corpo agora para crescer, virar um atleta de nome, crescer.

    Você coloca dicas de treino e de natação nas redes sociais, como surgiu isso?
    Eu treinei com a Rebecca Gusmão, com o Cielo, Thiago Pereira, e muitos me davam dicas que ajudaram muito. Eu pensei, se esses grandes atletas falassem para as crianças o que eles falam para mim durante o treino, iam ajudar muita gente. Ao invés de ajudar só eu, iam ajudar a natação brasileira inteira.

    Eu pego esse exemplo deles, das dicas que me deram, isso me ajudou no amadurecimento como atleta. Eles fizeram isso para mim, eu quero fazer isso para eles também, mas de forma mais global. Quem quiser pode seguir minhas dicas, meu blog, meu instagram, não só os atletas do meu clube, mas todos.

    • Tweet
    • Tags:
    • Entrevistas Mundial
    • leo de deus
    • Leonardo de Deus
    • Mundial de Barcelona

    2 Comentários

    • CONFIRA MATÉRIA COM O ATLETA LEONARDO DE DEUS | Corinthians Natação

      [...] http://esporteempauta.com.br/natacao/passaporte-carimbado-leo-de-deus Share this:TwitterFacebookGostar disto:Gosto Carregando… Esta entrada foi publicada em Uncategorized. ligação permanente. ← CONFIRA MATÉRIA COM O ATLETA FERNANDO ERNESTO [...]

      • wagner

        SOU PAI DE UM ATLETA DE 8 ANOS NA CATEGORIA MIRIM 1 DO CORINTHIANS, UM DIA EU E O MEU FILHO ENCONTRAMOS O LEONARDO NO VESTIÁRIO, ELE FICOU UM TEMPÃO CONVERSANDO COM A GENTE, NÃO SABÍAMOS QUEM ERA E DE ONDE ERA POIS NUNCA TÍNHAMOS VISTO AQUELE RAPAZ.
        APOS FICAR SABENDO QUE ELE ERA O LEONARDO DE DEUS EU E MEU FILHO FICAMOS AINDA MAIS IMPRESSIONADOS PELO FATO DE ELE SER UMA PESSOA QUE CONVERSOU E CUMPRIMENTA E CONVERSA ATÉ HOJE. UM ATLETA QUE ESTÁ SEMPRE SORRINDO, FELIZ E SEM NENHUM TIPO DE “ESTRELISMO”. FICA AI NOSSO COMENTÁRIO, BOA SORTE PRA VOCÊ EM TODOS OS ASPECTOS.

        WAGNER, PEDRO E JULIE

        22 jul 2013 05:07 pm (@Twitter)
        Responder

        Deixe um comentário

        Postando o comentário...

        Receber os comentários deste post via e-mail

        • Twitter