Poderia falar aqui de medalhas históricas, de conquistas triunfais, de recordes impressionantes, de viradas surpreendentes, de tantos outros momentos olímpicos recheados de glórias, louvores, champagnes e metais brilhantes. Momentos como esses não faltam. Mas quando penso em um fato marcante de Olimpíada vem à mente uma tragédia – sem mortos e feridos – e sim com uma atleta sem ter para onde ir ou o que fazer.
Me lembro que estava tendo aula na faculdade no dia em que Fabiana Murer disputava salto com vara na distante Pequim. A diferença de fuso da capital chinesa para São Paulo praticamente não permitiu que eu visse quase nenhuma das principais provas, fossem elas ao longo da madrugada ou de manhã. Naquele 18 de agosto de 2008, uma segunda-feira comum, estava no prédio da
Fundação Cásper Líbero, para mais um dia normal, com direito a prova. O teste não era tão relevante. Não em uma data como aquela. Fiz a obrigação o mais rápido que pude, esqueci o restante e corri para o computador mais próximo.
Foi a primeira vez que a internet transmitiu o evento ao vivo, um movimento pioneiro do Terra. Numa sala com outras 30/35 máquinas, calculo que 80% – umas 25 – estivessem ligadas ao mesmo site, acompanhando a mesma imagem. Não era à toa. Afinal, Maurren Maggi ainda não havia competido e ganhado o ouro no salto em distância e a maior esperança brasileira feminina no atletismo ainda era Murer.
Claro que a dourada era um sonho inconcebível. Sabendo que a recordista mundial, que fazia parecer 5 metros de altura uma envergadura ridícula, pisava na mesma pista que as outras. Mas qualquer medalha já era um feito impressionante. Quanto a Yelena Isinbayeva, não custava nada torcer por uma noite mal dormida, algum incômodo, ou – quem sabe – algum problema com o equipamento. Quem diria? Problema com equipamento, parecia a opção mais impossível. Não era. Pelo menos para Fabiana, não era. Não era o dia da brasileira. Depois de horas, dias, semanas, anos de trabalho para o tão esperado momento, aquele não era o dela.
Junto a milhões de tantos outros compatriotas e à própria atleta, fiquei perplexo. Sem reação. Por segundos, que valeram como minutos intermináveis, não pude falar nada. Esperava ingenuamente que o narrador da transmissão tivesse alguma resposta. Eu, milhões de brasileiros e Fabiana. Murer não piscava. Colocava as mãos na cintura, inconsolável. Com os olhos arregalados, perguntava para organizadores e concorrentes o que estava acontecendo. Sem esbravejar. Apenas, sem compreender o que estava acontecendo. Questionava. Calculava. Analisava. Chorava.
Só depois foi revelado que uma das varas da competidora havia “desaparecido”. Como uma vara mágica. Com isso, ela teve de saltar com um equipamento mais curto do que o necessário, e obviamente era o fim da linha. Mais algumas horas, e descobririam a tal vara em um depósito.
Um dia repleto de esperança, torcida, dúvida e emoção. Um dia que foi um resumo do que é o esporte olímpico no Brasil: uma grande vara deixada ao relento.

Deixe um comentário