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  • Meu momento olímpico inesquecível: Munique 1972, lágrimas de glória e de dor

    02/05/2012 por Redacao em Home, Memória, Notícias / 1 Comentário

    Por Jocimar Daolio 

    Munique 1972, 26 de agosto a 11 de setembro, XX edição dos Jogos Olímpicos. Eu tinha 14 anos e, pela primeira vez na vida, me interessava pelas Olimpíadas, talvez por ser a primeira transmitida diretamente pela televisão. As transmissões televisivas em cores haviam chegado ao Brasil somente dois anos antes. Não tenho qualquer memória dos Jogos Olímpicos do México, em 1968.

    Talvez pela minha idade, talvez pela televisão colorida, talvez pela beleza do espetáculo, tudo era empolgante nos Jogos Olímpicos, embora as transmissões esportivas ainda não tinham atingido o estágio tecnológico de espetacularização do fenômeno, como se pode ver atualmente. Na minha memória, era uma Olimpíada maravilhosa, não tanto pelos feitos de atletas brasileiros. De fato, ao final dos Jogos, o Brasil se contentaria com apenas duas medalhas de bronze, com Nelson Prudêncio no salto triplo e com Chiaki Ishii, no judô.

    Mas eu não estava acompanhando as Olimpíadas somente para ver vitórias de atletas brasileiros, não esperadas mesmo. Eu estava maravilhado com as oito medalhas de ouro de Mark Spitz na natação, sendo duas delas no mesmo dia, com uma hora de intervalo entre as duas finais. Nunca um atleta havia ganho tantas medalhas de ouro numa mesma edição de Jogos Olímpicos.

    Eu estava maravilhado com a ginasta soviética Olga Korbut, graciosa, ágil, flexível e fazendo exercícios tidos até então como  impossíveis nos aparelhos de ginástica. Levou três ouros.

    Eu fiquei fascinado com o esguio atleta finlandês Lasse Viren, com apenas 23 anos, ganhando o ouro nos 5 e 10 mil metros rasos. Nessa última prova, aconteceu um fato marcante. Viren, em quinto lugar, tropeçou no pé de outro concorrente e caiu. Rapidamente se levantou e, mesmo estando em último lugar, recuperou-se e venceu a prova. Depois dobrou o ouro na prova de 5 mil metros. Lasse Viren, quatro anos mais tarde, em Montreal, venceu novamente as provas de 5 e 10 mil metros, tornando-se o único atleta a conseguir esse feito, o chamado double-double. Sem contar o quinto lugar na maratona.

    Ainda houve outro acontecimento esportivo maravilhoso em Munique 1972, que foi a inédita derrota do time de basquetebol dos Estados Unidos para a então União Soviética, por 51 a 50, no último segundo do jogo, após uma polêmica motivada por um suposto erro de cronometragem, que fez com que houvesse mais três segundos jogados, o suficiente para uma cesta dos soviéticos. Os Estados Unidos, em protesto, jamais receberam a medalha de prata.

    Mas as Olimpíadas de Munique ficaram marcadas também por um triste episódio, o mais sangrento em todas as edições dos Jogos Olímpicos, que veio a ser conhecido como Massacre de Munique. O grupo terrorista árabe Setembro Negro invadiu a vila olímpica no dia 5 de setembro, matando imediatamente dois atletas israelenses e fazendo outros nove reféns, mas que também acabaram sendo mortos depois da fracassada operação de resgate da polícia alemã.

    Sentimentos contraditórios para quem, como eu, não dispunha na época de maturidade para compreender esse episódio. Alguns anos mais tarde pude perceber que o esporte não é só alegria, confraternização, beleza e espetáculo, mas também está sujeito a conflitos raciais, religiosos e econômicos, como qualquer fenômeno social. Pude perceber que o esporte não está imune, fora e acima do mundo, mas é também resultado dos conflitos da sociedade. Compreendi que o esporte pode ser manipulado por interesses dos mais variados. Aprendi que o bem e o mal convivem sempre nas quadras, piscinas, ginásios e vilas olímpicas. Aprendi que no esporte existem lágrimas de glória, mas também lágrimas de dor.

    Jocimar Daolio é professor da Faculdade de Educação Física da UNICAMP

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    • momento inesquecível

    1 Comentário

    • Antonio B.

      Parabéns pelo texto! Sem dúvidas deve ter sido uma grande olimpíada!

      29 jun 2012 04:06 am (@Twitter)
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