Meu irmão nadava medley. Treinava muito bem, fazia boas séries de crawl, não era amarelão, era apaixonado pelo que fazia. Mas quase sempre, nas provas de medley, virava bem no peito e perdia muitas posições no final. Fechava o crawl mal. Ninguém sabia explicar o que acontecia, nem ele, nem o técnico, nem eu, mas eu sabia que era muito simplista aceitar que ele não tinha “psicológico” para fechar a prova. Sabia que ele fazia tudo que podia para melhorar isso.
É muito por causa disso que tenho um carinho e respeito especial por Thiago Pereira. E também porque ele foi o primeiro nadador que eu vi toda trajetória no Brasil: ainda era criança quando Xuxa e Gustavo Borges surgiram. Sempre gostei muito do Thiago, e estive no PAN do Rio, em 2007, e vi a brilhante atuação dele lá. Que, infelizmente, virou motivo de piada um ano depois, quando ele não subiu ao pódio olímpico e viu Cielo se consagrar.
Via as pessoas chamando ele de arregão, e fazendo montagens sobre o Bradesco ter patrocinado o cara errado e só pensava: um dia ele pega essa medalha. Mas foram tantas traves, foram pelo menos quatro quartos lugares em Mundiais e Olimpíadas, que comecei a ficar com medo do dia nunca chegar. De todos, o mais difícil foi o Mundial do ano passado. Eu tinha certeza que seria lá: ele estava finalmente nos EUA com um técnico consagrado, estava bem, não ia perder. Mas perdeu.
Torcer para natação para mim é como torcer para um time de futebol para um monte de gente. Às vezes, antes de dormir, eu pensava em como seria se o Thiago Pereira ganhasse uma medalha, quebrava a cabeça para imaginar se Phelps venceria Lochte. Esperei essas Olimpíadas como meu namorado esperou a Libertadores. Com a diferença que só três vezes em quatro anos eu tenho a chance de ver uma disputa como essa.
Thiago foi brilhante hoje. Sua passagem de peito foi magistral. Mas até o final, eu falava: não tem como Phelps não passá-lo, justo no crawl em que o Thiago é tão frágil, justo o Phelps que é o Phelps. Torci pra ele segurar o bronze.
Mas ele segurou o Phelps. E os dois japoneses. E o sulafricano, e o italiano, e o britânico. O Thiago segurou todo mundo, depois de segurar a frustração nesses oito anos, pra depois poder segurar a medalha de prata.
Fico imaginando a hora que ele encostar a cabeça no travesseiro hoje a noite….

O Mr. Pan….

… também é prata olímpica

It ain’t about how hard you hit. It is about how hard you can get hit, and keep moving forward
Beatriz Nantes é criadora do Esporte em Pauta e apaixonada por natação desde que se entende por gente.
2 Comentários
Nome Marcia Leal
Esta é minha garota……………..
28 jul 2012 08:07 pm (@Twitter)
Guga Vinciprova
Sensacional! Tenho exatamente o mesmo sentimento! Parabéns pelo texto!
28 jul 2012 11:07 pm (@Twitter)
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