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  • Opinião: O que podemos refletir a partir do desempenho da natação brasileira em Londres?

    04/08/2012 por Beatriz Nantes em Home, Londres 2012, Natação / 3 Comentários

    A natação brasileira encerrou sua participação nas Olimpíadas de Londres com duas medalhas, e um desempenho pior do que o esperado da delegação em geral. Dos dezesseis atletas que foram a Londres com índices para as provas individuais, apenas quatro melhoraram suas marcas. Foram onze semifinais e apenas cinco finais, contra oito semifinais em Pequim e seis finais.

    Acredito que, dentre essas, a pior estatística é a de atletas que não conseguiram fazer o seu melhor nas Olimpíadas. Nervosismo, periodização errada do treinamento, doença: há muitas causas, algumas mais e outras menos justificadas, mas fato é que alguma coisa está errada quando 75% dos atletas pioram suas marcas na competição mais importante da modalidade em quatro anos – em muitos casos, piorando frente a marcas alcançadas em maio, no Rio de Janeiro. O que pode explicar isso?

    Colocar a culpa apenas no psicológico me parece simplista, mas acredito que este seja um dos principais componentes do resultado. E digo isso entendendo piscológico não no sentido de “amareladas”, como tantos que não entendem a complexidade do esporte gostam de bradar e criticar, mas de toda a preparação. Também acredito que a quantidade de seletivas, que levam a muitos polimentos ao longo da temporada, podem ser prejudicias, mas me focarei aqui no primeiro ponto. Utilizo os quatro atletas que conseguiram se superar em Londres como exemplo sobre o que entendo por essas falhas no psicológico dos atletas.

    Thiago Pereira foi o melhor nome da equipe: melhorou seu tempo nas duas provas que disputou, subiu ao pódio pela primeira vez em uma grande competição, e ainda somou uma quarta colocação, de longe o melhor resultado de todo grupo. Felipe Lima melhorou em três centésimos sua marca de 100 peito e chegou à semifinal, um bom resultado, ainda que ele esperasse uma evolução maior. Tales Cerdeira superou um problema físico complicado na virilha, que prejudicou seu treinamento nos últimos meses, melhorou seu tempo e ficou muito próximo da final, terminando em 9º em sua primeira Olimpíada. Bruno Fratus melhorou em mais de dois décimos sua marca no 50 livre, chegou à final em sua primeira participação olímpica e ficou muito próximo de uma medalha.

    O que aparece em comum entre os quatro atletas, e em especial em Fratus, é a atitude com que entraram na competição e ao longo dos últimos anos. Deixo claro que acho espetacular e admiro profundamente qualquer atleta que faça parte da seleção brasileira, e todos que estão lá são vitoriosos por ter alcançado os difíceis índices olímpicos impostos pela Confederação. Mas, uma vez alcançado este degrau – chegar às Olimpíadas, – é necessário querer mais, e partir para a próxima etapa. Vejo com clareza nesses quatro nadadores uma vontade e sangue nos olhos para alcançar melhores resultados, sem se contentar em apenas estar lá. Não digo que os demais não tenham esse sentimento, e sobretudo para os estreantes entendo que seja complicado combinar a felicidade em estar nas Olimpíadas e o foco completo no melhor resultado, mas talvez seja esse um ponto a ser melhorado com toda a delegação, em conjunto com toda comissão técnica. Entendo que para ninguém dói mais piorar as marcas do que para os próprios atletas, que treinam e vivem em função disso, e é importante que todos atletas da natação brasileira, não apenas os que estão lá, usem esse episódio para refletir e tentar aprimorar esse ponto. Thiago ressaltou ainda em entrevista como fez tudo o que pode para melhorar sua preparação, fazendo a alimentação perfeita, a parte física perfeita, procurando um médico para não ficar doente tantas vezes no ano. Estamos fazendo tudo o que podemos? Estamos sendo perfeitos  fora d’água, para depois fazermos nossa parte sendo perfeitos dentro d’água?

    Por fim, destaco a grandeza do feito de César Cielo. É claro que seu resultado foi aquém do esperado, que o ouro era possível e que algo deu errado para que um nadador que certamente tem essa atitude que citei acima não tenha conseguido, dessa vez, se superar. Mas César soma agora três medalhas olímpicas, uma de ouro e duas de bronze, aos 25 anos. Não sei se as pessoas entendem o significado e o tamanho de uma medalha olímpica; três são espetaculares. César falhou e decepcionou principalmente a si mesmo, mas continua sendo o melhor nadador da história do país e um de nossos melhores atletas em todos os esportes.

    Beatriz Nantes é criadora do Esporte em Pauta, atleta até os 17 anos e apaixonada por natação desde que se entende por gente

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    3 Comentários

    • Nome Marcelo

      O exemplo do Thiago Pra mim diz tudo, qdo perguntaram a ele o q mudou do seu ciclo anterior p este, ele disse ” muita coisa, principalmente FORA da piscina” disse tbm uma vez “resolvi treinar nos EUA pq lá os caras treinam para VENCER uma olimpíada” no Brasil treinam para participar, isso faz toda a diferença. Não temos esta mentalidade vencedora superior ainda no Brasil! Infelizmente. E a construcao dessa mentalidade deveria ser parte fundamental do treinamento! Sou pai de nadador, vejo q os atletas tem o mesmo volume de treinamento dentro das piscinas q os outros países! Mas fora ainda temos muito q aprender!

      04 ago 2012 03:08 pm (@@Marcelomizrahy)
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      • Lucia

        Só corrigindo…
        O Thiago treina no Brasil com o Albertinho e a equipe do Pro16. Credito a estrutura destes proficionais a mudança de postura do Thiago. Nas entrevistas já era possível se perceber uma atitude diferente.
        Falta “rodagem”, falta muita competição fora paraque nossos atletas se acostumem a competir em alto nível e a não se intimidar com os adversários. Não adianta participar do circuito Mare Nostrum apenas a 6 meses da olimpiadas que o desgaste pode ser até maior. As comeptiçõe sinternacionais e treinamentos fora devem acontecer durante todo o ciclo olimpico.

        04 ago 2012 05:08 pm (@Twitter)
        Responder
          • Beatriz Nantes

            Lucia, concordo. Falta mesma competição fora, até para começar a chegar nas Olimpíadas olhando os adversários de igual para igual, e não ficar acostumado só com os adversários de Maria Lenk e PAN. Tomara que neste ciclo isto melhore...

            04 Aug 2012 06:08 pm

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