Em reunião realizada na terça-feira, o COI recomendou a exclusão da luta olímpica dos Jogos Olímpicos de 2020. Uma das nove modalidades que fizeram parte da primeira edição das Olimpíadas da Era Moderna, em 1896, a luta olímpica está na origem dos Jogos. Agora, a luta tentará, junto com outras sete modalidades, ser incluída no programa de 2020. A decisão final sai em setembro, após painel a ser realizado em maio.
O presidente da Confederação Brasileira de Lutas Associadas (CBLA), Pedro Gama Filho, falou em entrevista ao Esporte em Pauta sobre a exclusão.
Já era sabido que a reunião do COI levaria a recomendação de exclusão de uma das modalidades dos Jogos Olímpicos de 2020. Você esperava que fosse a luta olímpica ou foi pego de surpresa?
Eu particularmente fui pego de surpresa, acredito que a FILA [Federação Internacional de Lutas Associadas] também, e esse no meu ponto de vista foi o grande problema, acho que a confiança era muito grande por parte dos dirigentes da Federação internacional. Na política, como na vida, isso é imperdoável, e tem consequências, geralmente graves. Temos sempre que ter a “guarda alta”, e estar antenados com as demandas para mantermos o esporte atual e atrativo.
O próprio presidente do COI, Jaques Rogge falou que “haveria reação de qualquer esporte excluído”. Quais os argumentos da luta?
Com todo respeito ao Presidente jaques Rogge e às outras modalidades, a luta não é “qualquer” esporte, é um dos esportes fundadores dos Jogos Olímpicos. A história da modalidade se confunde com a história dos Jogos e da própria humanidade, é a mãe de todas as lutas…acho que a reação nem começou a acontecer, isso foi uma amostra baseada na instrução do COI, se a exclusão for confirmada, aí sim os protestos virão…O wrestling é citado nas letras do hino Olímpico, e se o IOC espera manter sua credibilidade enquanto instituição deve voltar atrás nessa instrução. Espero que FILA e COI se encontrem logo, e discutam o que precisa mudar para melhorar a modalidade, e que as mudanças fiquem por aí. Jogos Olímpicos sem o wrestling, é o mesmo que uma partida de futebol sem as traves….
Haveria a possibilidade de diminuir o número de categorias (hoje são 18), ou aumentar o número de categorias femininas, para buscar a igualdade de gêneros buscada pelo COI?
Acho que está é uma tendência sim, a diminuição do número de categorias, ou até mesmo a exclusão de um dos estilos masculinos, e a equiparação das categorias femininas, mas por enquanto estamos falando em suposições baseadas no modo de pensar do IOC. Mas certamente a FILA terá adequações a fazer, se quiser continuar nos Jogos, o sinal amarelo foi aceso.
Quais os próximos passos? A Federação Internacional está se articulando com as Federações Nacionais para pleitear a reversão dessa decisão?
Obviamente, todo apoio que vier das federações nacionais é importante, no sentido de gritar aos quatro cantos do mundo, o que a Luta Olímpica representa para o movimento olímpico, é uma forma de pressionar, mas importante de fato, são as adequações que a FILA deve fazer para manter o esporte atrativo, e a busca por apoio político dos membros do IOC, que deve ser um trabalho incessante a partir de agora.
Outros esportes de luta, como judô e taekwondo, tiveram alguns atletas demonstrando solidariedade após a decisão. Acha que isso pode ajudar?
Todos os atletas de combate sabem do peso e da importância da Luta Olímpica, é uma das modalidades mais tradicionais e populares pelo mundo todo. Muitos outros esportes de combate foram originados do wrestling. Obviamente, toda ajuda é muito bem vinda, e fico extremamente feliz com o reconhecimento e apoio desses atletas, certamente a comunidade do wrestling mundial faria o mesmo por eles, são pessoas que viveram os Jogos Olímpicos de dentro dele, e não dos bastidores políticos, e sabem exatamente o que uma decisão como esta, se confirmada, pode significar para o sonho de milhares de jovens atletas…
De todo modo, a luta está garantida em 2016. Acha que, caso seja mantida, essa decisão pode atrapalhar no desempenho nos Jogos de 2016?
Não, muito pelo contrário, nossos atletas estão focados, irão lutar em casa, a preparação segue forte…além disso, se esta instrução se confirmar, e acredite, faremos de tudo para que não se concretize, ajudando como pudermos, o nível técnico da competição em 2016 já será afetado, pois muitos países, sem a perspectiva de futuro da modalidade, cortarão investimentos desde já…certamente as chances dos brasileiros aumentariam, mas não queremos isso, queremos que nossas conquistas sejam obtidas contra os melhores, no melhor de suas formas, e suas preparações. Queremos a luta viva, pois o Brasil ainda será muito grande nessa modalidade.
Como está a preparação dos brasileiros para as Olimpíadas do Rio? O Centro de Treinamento foi inaugurado recentemente e os brasileiros tem participado de treinamentos e competições internacionais. O que podemos esperar do desempenho em 2016?
O foco é total, no momento temos 3 equipes mais que completas pelo mundo treinando e competindo, chegamos a um ponto no desenvolvimento técnico em que encostamos nos países de tradição, faltam pequenos detalhes e teremos 4 anos para buscar aprimorar esses detalhes…O CT da FILA foi uma grande conquista nossa, é o primeiro das Américas, uma vitória da nossa gestão, com grande apoio do COB, do nosso Ministério do Esporte, da CAIXA, nossa patrocinadora, e da própria FILA. O CT dará as condições ideais de treinamento aos nossos atletas, um local aonde eles poderão, única e exclusivamente, focar em serem os melhores.
Como está o processo de naturalização dos dois atletas estrangeiros que hoje treinam com a seleção? Eles vão competir em 2016?
O processo está adiantado, eles já moram no Brasil a algum tempo, falam português e vieram voluntariamente, nunca tiveram regalias diferentes dos nossos atletas. acredito que lutarão sim em 2016, mas não os destacaria como melhores ou piores do que nossos atletas, pois realmente estão em um nível parecido. A partir do momento que se naturalizem, são brasileiros como os demais, e terão nossa atenção, como os demais. Eles vem para somar ao grupo, mas terão que conquistar suas vagas no time brasileiro, dentro dos tapetes.
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