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  • O que o famigerado handebol e o Jammil me ensinaram sobre esporte e vida

    26/12/2013 por Beatriz Nantes em Coberturas, Handebol, Opinião / 2 Comentários

    A essa altura do campeoanto, todo mundo já sabe, já se emocionou, já postou ou pelo menos já deu um curtir no título mundial do handebol feminino do Brasil. Era o mínimo, porque foi histórico e espetacular. Daquelas coisas que daqui a muitos anos dá para olhar para trás e falar “cacete, aquele dia foi foda, aquelas meninas eram fodas”.

    Eu entendo do fundo do coração o bode que as pessoas que “gostam de verdade de handebol” e acompanham a seleção faz tempo sentem quando veem seus esporte virar modinha. Acho que é até normal. Quando o Cielo foi campeão olímpico, em 2008, teve um momento que me senti meio “traída”: po Cielo, te acompanho desde que você nem ganhava brasileiro absoluto, e agora você é da galera… tem a ver com o que o Mike Gustafson falou sobre o amor que a gente tem pelos esportes “não mainstream”, que se assemelham às bandas pequenas e desconhecidas: “You love them partially because they’re small, they’re yours, and in this world of globalization and commercialization, sometimes the best rocking out is to the small-time garage band in your life.”

    Mas isso só pode durar 1 dia. Porque quem gosta do seu esporte preferido de verdade precisa ver que é maravilhoso o que aconteceu com o handebol, e que eu não vejo há muito tempo: a forma como essa seleção e esse título contagiaram muita gente. Amo natação e tenho orgulho dessa modalidade ser tão vitoriosa, mas eu admito que nunca vi uma reação como essa a um título da natação: não vi esse ano na histórica dobradinha da Poliana com a Ana Marcela no Mundial, no pódio do Cielo, ou mesmo no seu ouro em 2008, não vi no judô com o título da Rafaela.

    Talvez porque no handebol o título era inédito, e natação e judô já são mais “vitoriosos”? Pode ser. Talvez tenha um pouco do efeito facebook, da época do ano vazia no calendário do futebol e de “férias” pra muita gente, pode ter a ver com o fato de muita gente ter praticado a modalidade na escola, ser um esporte coletivo, enfim.. não sei e nem me interesssa muito. O fato é que poucas vezes na vida eu vi algo como isso. Alexandra pedindo música no fantástico, todo mundo falando de handebol, que sensacional! As implicações são imensas. Mais mídia, mais gente querendo praticar a modalidade. Já pensou se começa uma cultura de handebol? Não vai ser como futebol, mas não dá para querer comparar com futebol – é outro negócio, e não tem problema que seja assim. Todo país tem seu esporte principal. O importante é que os outros tenham um mínimo de estrutura para atrair mais gente, ter crianças praticando, atletas se formando, e tudo mais.

    E agora me estendendo um pouco mais na Alexandra no Fantástico, é aqui que chego na parte mais bonita dessa história para mim. De tudo, o que mais me emocionou foi a reação das jogadoras, especificamente a música que elas cantaram durante o campeonato. Eu estou longe, eu sei, e minha visão pode ser superficial, mas o que eu vi ali e em todas as declarações depois me tocou o coração. Eu já conhecia a música, e a primeira vez que vi que elas estavam cantando essa letra, achei muito divertido. Poxa, a música é super pra cima, elas estavam felizes de estar vivendo aquilo ali, que demais.

    Vamos recapitular essa história: essas jogadoras precisaram sair do país para melhorar seu handebol (com apoio da Confederação, é bom dizer), ficar longe de suas famílias. Vem de um histórico de exposição pífia na mídia (um salve ao Brasil no Rio, Surto Olímpico, Marcelo Romano, Olimpílulas, e todo mundo que tenta fazer jornalismo de esportes olímpicos nesse país). De um continente que não tinha nenhum resultado expressivo em Mundiais/Olimpíadas. E de dois resultados que estavam engasgados, o Mundial de 2011 e as Olimpíadas do ano passado. Eu não acho que elas são coitadinhas, e é bom deixar claro que o handebol vem tendo apoio sim,mas olhando esse histórico, quem poderia criticar se a comemoração fosse um desabafo, se sobrassem críticas para todos os lados, reclamações pela estrutura do Brasil, mais desabafo, “calamos a boca de todo mundo” e por ai vai?

    Mas não foi isso o que aconteceu. Sim, até teve, mas de um jeito bem moderado – e, em geral, como resposta a perguntas de jornalistas, não como uma agenda imposta por elas. Bem diferente do que o vôlei quando foi campeão olímpico em 2012 (isso não é uma crítica, eu entendo). Mas falando de handebol: a comemoração delas foi leve, foi linda:

    “Celebrar, como se amanhã o mundo fosse acabar,
     tanta coisa boa a vida tem pra te dar,
    o pensamento leve faz a gente mudar”. 

    Elas estavam felizes! Não estavam preocupadas em calar a boca de ninguém (até podem ter ficado e até podem ter calados, mas isso não foi o principal), ou em cantar uma música de superação: elas estavam cantando uma música sobre alegria! A tônica de Celebrar, que a Alexandra pediu no Fantástico e que a seleção cantou depois de conquistar o título, é de meninas felizes até perder a conta, orgulhosas de si mesmas, agradecidas pelo momento que puderam viver. Isso é muito muito muito bonito.

    Fico muito emocionada quando vejo pessoas trabalhando com o que amam e fazendo sua função bem. Isso vale não só para elas, mas para os jornalistas do Esporte Interativo: como foi legal ver a emoção da repórter, do narrador, a vibração da equipe toda. Eu sai da casa do meu amigo com quem eu vi o jogo feliz de ter visto tantas pessoas genuinamente felizes. Isso é muito raro, e talvez seja uma pureza que só um “primeiro título” permita, pensando na pressão, no dinheiro, e em tudo mais que está envolvido depois.

    Como eu sempre falo: cada título deve ser muito comemorado por si só. Uma conquista não tem valor só porque ela foi um passo rumo ao ouro olímpico: ela é também este passo, mas é antes disso um título por si só. Que bode desse mundo em que as coisas só tem sentido se vão implicar em alguma outra, se vão agregar ao currículo ou ensinar a ter disciplina: cacete, o esporte vale por ele, não só pelas suas implicações (que são muito legais, claro!). Muito bonito ver essa celebração, “como se amanhã o mundo fosse acabar”. Claro! O título vale muito, a Olimpíada é outra coisa, e o que quer que aconteça lá, não apaga o que aconteceu agora.

    Pra terminar: “se acostume com a felicidade” da música é lindo, e bem que o Gérson, meu técnico de natação, me ensinou lá atras: “para com essa história ridícula de se melhorar estraga, se melhorar, melhora!”. Quem diria que o Jammil fosse me dar uma aula de filosofia de vida.

    *Dedicado a Camila Lacerda, que assim como as meninas, é sempre em prol da alegria

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    • handebol
    • Título mundial

    2 Comentários

    • Rafael

      Texto muito bom, parabéns! Nosso blog http://brasilpotenciaolimpica.blogspot.com.br/ também acompanha muito o esporte em geral e o handebol. (Vide os posts de janeiro, no mundial de 2013 masculino, e nessa fantástica conquista das nossas guerreiras). Continuem com esse trabalho incrìvel, de cobrir os esportes olímpicos. Abraços.

      27 dez 2013 08:12 pm (@@rafa_olimpico)
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      • Rafael Alves

        Você disse tudo. Acho inclusive que essa felicidade delas em quadra que vc citou bem, deve ser o que nos contagiou tanto. Trabalhei na cobertura de 2011, acompanhá-las após aquela derrota foi doído demais. Em 2012, acompanhei a chegada delas no Brasil e vi o quanto aquilo pesava nelas.

        Em 2013, acompanhei a preparação delas e dava para perceber algo de diferente, não havia aquela tensão nas preparações de 2011 e 2012. Lógico que não vou dar uma de ser o oportunista de falar aqui que “EU JÁ SABIA”, longe disso. Acreditava que o Brasil chegaria para brigar de igual para igual. Mas que elas estavam acima de tudo, felizes, isso estavam.

        Massa esse post. Parabéns e abraços E VIVA AO ESPORTE NACIONAL. O Brasil não é só futebol (masculino) rs ;)

        06 jan 2014 11:01 pm (@www.twitter.com/rflalves)
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