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  • Sonho Olímpico: Patricia Boos

    08/10/2014 por Beatriz Nantes em Home, Hóquei na grama / Sem comentários

    Existe outra Olimpíada antes das Olimpíadas começarem. Para que 10.568 atletas estivessem em Londres, muitos ficaram pelo caminho.

    As seletivas nacionais são cruéis. No taekwondo, pela regra que valia até a última edição dos Jogos, cada país só podia levar quatro atletas no total, entre todas as categorias – não basta ser o melhor do país no seu peso, há que ser melhor que os outros melhores. No judô, apenas um atleta é aceito por país em cada categoria. Os cortes na lista dos convocados no vôlei aconteceram já em Londres.

    A mesma travessia está sendo traçada desde já, rumo ao Rio-2016.

    Diz o senso comum que os esportes de menor tradição podem respirar alivados quando há uma Olimpíada em casa. O motivo é bem claro: ao invés de se submeter aos fortes índices e critérios de classificação típicos de uma Olimpíada, o país sede teria o benefício da vaga garantida em todas as modalidades.

    Mas nem sempre é assim. O caso mais emblemático hoje é o do hóquei sobre a grama, que corre o risco de ser o único esporte sem brasileiros nas Olimpíadas de 2016. Desde que a modalidade se tornou olímpica, em 1908 para os homens e 1980 para a disputa feminina, o Brasil nunca teve representantes na competição mais importante desse esporte.

    A ausência do hóquei brasileiro no piso sagrado das Olimpíadas não podia ser diferente: o esporte engatinha no país, com 6 clubes que participam do Campeonato Brasileiro, todos do eixo Sul-Sudeste. No documentário “À sombra dos holofotes”, o técnico do Florianópolis resume bem a questão técnica: “Não daria para jogar contra a primeira divisão argentina, contra a segunda dá. No masculino. No feminino já teria que ir um pouco mais embaixo”.

    Em meio aos dados, existem os atletas. Uma delas é Patricia Boos, 30 anos.

    Ainda na faculdade de educação física, Patricia foi vista jogando futebol. Na época, o Brasil começava a formar uma seleção permanente visando o PAN de 2007, e Patricia foi chamada para defender o país. O Brasil terminou a competição com três derrotas em três jogos, e 38 gols sofridos.

    A evolução da modalidade a partir daí – lenta, mas uma evolução – se confunde com a história de Patricia, hoje capitã da seleção. O principal (e insuficiente) legado do PAN foi o campo oficial construído no Rio de Janeiro.

    Embora importante, o campo é também uma “maldição”: os jogos do Campeonato brasileiro são realizados lá. Não é incomum ver as duas principais equipes de Florianópolis viajando horas até o Rio para disputar uma partida no final de semana e, então, voltar para casa. Seria apenas o problema do cansaço e da falta de praticidade, não fosse um detalhe: são os jogadores que arcam com todos os custos de viagem: passagem aérea, hospedagem, alimentação. Não há auxílio de custo nem por parte do clube nem da Seleção, com exceção dos períodos de preparação em Deodoro.

    Em paraleo ao hóquei, Patrícia – e a maioria dos atletas das seleções, masculina e feminina – trabalham. Patricia é funcionária pública e também faz faculdade. Treina todos os dias, entre preparação física e treino na quadra e no campo society, improvisação para lidar com a falta de um campo oficial no estado.

    Enquanto ouvia Patricia me contando sobre isso há cerca de um mês, quando falamos ao telefone, meu lado racional não pensava nem na estrutura para o esporte no Brasil. O que me vinha à cabeça era: por que ela fazia aquilo? Se dedicar assim por um esporte, gastar dinheiro com ele – sem nem ter a garantia de participar das Olimpíadas – pagar para competir. É contraintuitivo. Ela me respondeu:

    “Eu sempre fui apaixonada por esportes em geral. Isso vem muito da pessoa: eu não consigo ficar muito longe da competição, gosto do clima e gosto muito de representar e vestir a camisa do Brasil. Isso me move, me atrai. Por isso eu continuo esse tempo todo. Não consigo largar isso e seguir minha normalmente, sem ser atleta”.

    Participação nas Olimpíadas
    A questão das Olimpíadas é complicada. Pela diferença de nível técnico da seleção para as demais equipes, a Federação Internacional de Hóquei (FIH) criou um critério: o Brasil teria que chegar ao top 40 do mundo no feminino e top 30 no masculino até o final deste ano.

    Atualmente, o Brasil é 41o. A última chance de melhorar a classificação seria a disputa da Liga Mundial, em Guadalajara. Com o patrocinador tirando a verba da viagem, o Brasil não pode participar da competição, e não há mais chance de ficar entre os 40 primeiros até o final do ano. Outra forma de classificação seria ficar entre os 6 primeiros no PAN, mas o país ainda não está classificado para a competição.

    Os atletas se mobilizaram e organizaram um abaixo assinado pedindo a revisão das regras de participação da FIH, mencionando que outros esportes sem tradição contarão com convite para participar dos Jogos. “Não queremos só as Olimpíadas. Queremos o futuro do esporte. Sabemos que a participação vai trazer um legado muito grande: instalações, aumentar o número de praticantes, crianças conhecendo, público. A ideia é essa, divulgar o esporte. Somos poucos, muitos não conhecem”, me disse Patricia. 

    Antes que soasse um discurso de “vítima”, a própria Patricia completou. “A ideia é mostrar a realidade mas não de forma negativa. Sabemos que tem muitos problemas, e que a realidade não é a ideal. Queremos divulgar e desenvolver o hóquei no Brasil. Mas sempre positivamente, sabe? Tentando trazer as pessoas para o nosso lado ao ver que a gente vem lutando e batalhando”.

     

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