Por oito anos, elas sonharam com a mesma coisa. Um ano depois de Adriana Behar e Shelda conquistarem a prata olímpica em 2004, Juliana e Larissa passaram a dominar o vôlei de praia brasileiro, um dos melhores do mundo. De lá para cá, ganharam tudo que puderam: Circuito Mundial, seis vezes. Mundial, uma medalha de cada cor, e a última de ouro, em 2011, sobre as toda poderosas Misty e May. Mundial este que acontece a cada dois anos e tem o nível de uma Olimpíada, os adversários da Olimpíada e a dificuldade da Olimpíada, mas que ao mesmo tempo tem um mundo de diferença para uma Olimpíada, simplesmente porque não é Olimpíada.
Olimpíada.
Juliana e Larissa tiveram uma trajetória difícil o suficiente para valorizar a mera presença lá em Londres. É claro que todos valorizam, não é fácil para ninguém se classificar, entar na Vila Olímpica sempre é especial. Mas às vezes alguma coisa ofusca isso. Você chega como estreante mas já é favorito. Ou é tão novo que não caiu a ficha. Ou está tão preocupado e concentrado com sua prova que não não pode, e talvez nem deva, se dar conta do significado de estar em uma Olimpíada. Talvez tivesse sido assim se elas estivessem em Pequim. Mas Juliana teve um problema e não pôde ir. Me lembro de ter visto a jogadora dando entrevista numa cadeira de rodas, e imaginar “será que ela se recupera disso? será que elas voltam a jogar juntas?”. Achei que não.
Pelo jeito que foi, estar nas Olimpíadas já foi especial. Mas é claro que elas queriam o ouro. Campeãs mundiais, líderes do ranking, favoritas. Desde 2005, Juliana e Larissa foram dormir sonhando com o ouro olímpico. E sonharam com ele depois do Mundial de 2011, durante esse ano, depois dos jogos da primeira fase, nas oitavas de final, nas quartas de final, na semifinal. Nem sempre de forma consciente, é claro: para terem o currículo que tem, as duas sabem muito bem que ganha quem pensa em um jogo de cada vez, e joga todos como o último da vida. Mas de algum jeito, elas estiveram sempre sonhando com o ouro.
Ontem Juliana e Larissa tiveram um dos dias mais difíceis da carreira. Tiveram que, em um dia, mudar o sonho de oito anos e dormir pensando no bronze. Cada medalha tem um significado diferente dependendo da pessoa, da modalidade. Ser prata na natação em uma prova com Phelps é diferente de ser prata perdendo uma final nos pênaltis. Ser bronze em uma modalidade que faz sua estreia nas Olimpíadas, que teve um pré olímpico dificílimo e sendo uma total desconhecida da maior parte do público é uma coisa, como foi para Adriana Araújo, e ser bronze sendo campeã mundial é outra.
Mas uma coisa é certa: não importa a modalidade, ser bronze é sempre, sempre melhor do que ser quarto colocado.
Por um dia, Juliana e Larissa tiveram que esquecer o sonho do ouro. Esquecer a decepção da derrota de virada na semifinal. Uma derrota que não desce doendo não faz sentido, e elas precisam ser choradas para serem superadas. Mas Juliana e Larissa não puderam sentir essa derrota direito, porque se sentissem demais, a próxima chance só daqui a quatro anos… e tanta coisa muda em quatro anos.
Eu imagino como foi difícil dormir ontem sendo obrigadas a sonhar com o bronze. Pensando como podia ser diferente, pensando no que os patrocinadores pensaram, no que a mãe está pensando, e tendo que tirar isso da cabeça e pensar no bronze. Hoje é o dia de dormir aliviada e feliz, porque uma medalha olímpica é algo gigante, embora muita gente não se dê conta disso.
Mas inconscientemente, Juliana e Larissa já estão de novo sonhando com o ouro.

Beatriz Nantes é criadora do Esporte em Pauta, nadadora até os 17 anos e apaixonada por natação desde que se entende por gente
Deixe um comentário