Há dez anos integrando a seleção brasileira de esgrima no florete masculino, o medalhista panamericano Heitor Shimbo intercala o trabalho, na Secretaria do Meio Ambiente, com os treinos fortes, visando o atual ciclo olímpico. Formado em Geografia pela FFLCH-USP, ele concilia o trabalho no período diurno com treinos a noite no Pinheiros, e comemora a melhora da estrutura para a esgrima, especialmente após o patrocínio da Petrobras para a modalidade. 
Bronze nos Jogos Pan-Americanos de Guadalajara, medalha inédita para a equipe de florete masculino brasileiro, e campeão Sul-americano, em competição realizada recentemente, no Peru, Shimbo começou na modalidade por influência do irmão. Ainda criança, com nove anos, ele precisou ser submetido a uma cirurgia no coração e não podia praticar esportes, então ficava assistindo o irmão. “Ele colecionava selo, gostava da história de mosqueteiro. Eu gostava muito, e quando me liberaram eu comecei a praticar esgrima com o pessoal da minha idade. Era muito legal”.
Shimbo começou no Banespa e foi para o Pinheiros em 2005. Antes disso, já havia representado o Brasil no PAN de Santo Domingo, em 2003. “Eu tenho um carinho muito especial por esssa competição. Depois fui para mais dois PANs, mas o primeiro é inexplicável. Um dos momentos mais marcantes foi quando entrei na estádio na Cerimônia de Abertura, é uma sensação muito única”.
Florete masculino no Brasil
O florete, arma especialidade de Shimbo, tem a equipe masculina mais forte no Brasil hoje, e ficou próxima de conseguir classificação para as Olimpíadas. “Quando começou o ciclo passado, fizemos uma análise bem realista e vimos que tinhamos condições de ser a segunda melhor equipe da América, ultrapassando a Venezuela e o Canadá. Os EUA ainda estão um passo a frente”. A meta foi atingida, mas para que fosse aberta mais uma vaga para equipe das Américas, era necessário que os EUA ficassem entre os quatro primeiros do ranking mundial. “Eles tinham muita chance, tanto que ficaram em quarto nas Olimpíadas. Mas justamente no Mundial, que valia pontos, eles foram mal. Foi até engraçado, vencemos nosso confronto direto com o Canadá e fomos torcer pelos EUA. Quando eles perderam um confronto importante, até vieram pedir desculpas. Foi uma pena, mas vimos que dá”.
No individual, o atleta do GNU Guilherme Toldo conseguiu classificação a partir do pré olímpco, muito comemorada pelos outros atletas do florete. “Somos adversários dentro da pista, mas fora torcemos. E era muito importante para o esporte conseguir essa vaga, além dele ser um menino muito bom e esforçado”. Toldo conquistou a vaga no pré olímpico das Américas, para o qual se classificou por ser o líder do ranking nacional, ainda que fosse apenas o quarto brasileiro no ranking mundial. “Acho que o formato do ranking nacional é bom hoje. O Toldo era o primeiro no ranking nacional e por isso participou, com méritos. O importante é que o critério da Confederação seja claro antes da decisão, e foi o que aconteceu”.
Para 2016, o trabalho já começou. A intenção de Shimbo é, dentro de dois anos, pedir afastamento de seu emprego e focar só na esgrima. Até lá, o esgrimista quer intercalar períodos de treinamento no Brasil e estágios de treinamento fora, além de participação em torneios internacionais – em janeiro, ele participa de torneio em Paris, e depois deve ficar até março pela Europa treinando e competindo. “Uma grande vantagem do meu trabalho é que sou concursado, e está no estatuto do servidor que tenho direito a dispensa remunerada quando represento o estado ou o país, então nunca tive problema com estágios e competições. Meus chefes também são bem compreensivos”. Hoje, Shimbo trabalha das 8h as 17h e treina de segunda a sábado, das 18h as 22h.
Sobre a melhora na estrutura da esgrima, Shimbo é enfático e relembra a evolução a partir dos planos de incentivo do governo. “Esse ano foi a primeira vez que fiz o Circuito Mundial completo, antes era quase impossível. Primeiro teve a lei PIVA, que deu estrutura para as Confederações e permitia pagar competição para alguns, além de ser muito usada na administração interna. Depois surgiu o Bolsa Atleta, que garante que o dinheiro chegue direto na ponta. Foi com esse dinheiro que fiz mais competições, o Pan de esgrima e algumas etapas da Copa do Mundo. Agora tem a Lei do Incentivo, com a Petrobras, através do Instituto Passe de Mágica, e melhorou demais a estrutura”. Shimbo acredita em um bom resultado da esgrima nas Olimpíadas do Rio-2016, e já cita o bom desempenho de Renzo Agresta, que ficou entre os oito primeiros em um Grand Prix no ano passado, resultado expressivo. “Foi uma pena ele ter machucado o pé um mês antes das Olimpíadas, isso atrapalhou muito o desempenho. Acredito que ele tinha chances de medalha”.
Dez anos na seleção
Shimbo brinca que, dos dez momentos mais marcantes de sua via, oito devem ter sido na esgrima. Além da abertura do PAN de Santo Domingo, ele cita o ouro por equipes no Sulamericano de Medelin e o bronze no PAN de Guadalajara. “A gente está conseguindo romper algumas barreiras. Alguns atletas no Brasil que eu sou fã não tinham conseguido alguns resultados que estamos conquistando. Cada vez que você supera uma barreira no esporte, é um momento que fica para sempre.
Comento que ele parece gostar muito da esgrima e que ele parece nem pensar em parar. “Sim. A esgrima é um esporte que é muito legal… sei que sou suspeito, mas envolve parte fisica, tática, psicológica. Eu gosto demais. Se eu fazia antes quando não tinha apoio nenhum, agora que está melhorando, dá ate mais vontade”.
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