Com as facilidades da internet, as reações à vitória de Zanardi pipocavam nas redes sociais: mito, herói, fantástico, brilhante. Em uma das raras exceções em que um personagem das Paralimpíadas é conhecido do grande público ao redor do mundo, o italiano protagonizou uma das muitas histórias marcantes dos Jogos Olímpicos da Superação. A cada atleta, uma história de vida – e é tão difícil vê-los como atleta, o que eles querem, e não como histórias de vida.
Não era para menos para o italiano de Bologna, nascido há 45 anos. Depois de disputar corridas na Fórmula 1, sem grandes resultados, ele se consagrou na Fórnula Indy, ou Cart, como era chamada na época. Campeão em 1997 e 1998, voltou para a F-1 pela Williams, e novamente não teve destaque. Não tinha como fugir: a Indy era a modalidade de sua vida.
Pelo menos era isso que parecia, até aquele dia em setembro de 2001. Em um acidente com o canadense Alex Tagliani durante uma prova na Alemanha, Zanardi milagrosamente se manteve vivo, para poder reesecrever qual era o esporte de sua nova vida. Não foi fácil: ele perdeu quase três quartos do seu sangue, as duas pernas, a carreira na Indy; mas não a vida.
A reabilitação começou logo após o acidente. Tanto é que, dois anos depois, ele voltou a Lausitzring para completar as 13 voltas da prova que quase o havia matado.
Hoje, em Londres, no mesmo autódromo onde fez sua primeira pole position e marcou seus primeiros pontos como piloto, em 1991, Zanardi sagrou-se campeão paralímpico no ciclismo H4. É de um artigo lindo de Christian Carvalho Cruz, do Estadão, que tiro as aspas de Zanardi antes de disputar a competição:
“Eu sou muito sortudo. Sabe como eu cheguei aqui? Em 2001, numa prova de Fórmula Indy na Alemanha, meu carro partiu em dois. Numa parte ficou um pedaço de mim. Na outra estavam as minhas pernas, que, arrivederci, foram embora. E aí ganhei passagens para disputar estes Jogos Paraolímpicos em Londres. Mas antes daquele dia, se você me dissesse ‘Alex, por que você não disputa uma Olimpíada?’ eu te perguntaria ‘Ei, o que você andou fumando?’ Por isso eu digo: a vida me deu a chance de fazer tantas coisas surpreendentes nos últimos 11 anos que eu sou mesmo um cara de muita sorte”.
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