Cielo: Impossível não reafirmar a cada competição como Cielo é um monstro nadando. Ignorou os problemas de altitude, a competição sem adversários tão fortes e nadou muito para 47″84, sua melhor marca pessoal sem trajes e segundo melhor tempo do ano, atrás apenas de Magnussen, campeão mundial em Shangai, que nadou abaixo disso duas vezes na temporada. Muitos apostavam em Cielo mais “leve” no PAN do que no Mundial, quando soube de sua absolvição poucos dias antes da estreia, e pronto a fazer tempos melhores, tese afirmada por ele mesmo após ganhar a prova, em entrevista à Record. Confesso que também acreditava mas tinha perdido um pouco a confiança vendo os tempos fracos saindo no PAN. Fazer um tempo bom em altitude é mesmo admirável – não somente pela dificuldade realmente imposta, como pela atitude de não se deixar abalar por isso.
Para ganhar de Magnussen, falta melhorar a volta. Em Shangai quando nadou para 47″49 abrindo o revezamento, o australiano passou 23″10 e voltou 24″39; Cielo passou trés decimos mais forte, com 22″84, mas voltou seis décimos acima (25″00). Vai ser assim em Londres: velocista por excelência, Cielo passa mais forte sempre e Magnussen tem um perfil que poderiamos chamar de mais associado com nadadores de 100/200 livre (houve especulações sobre sua participação nessa prova, mas ele e seu técnico negaram), de voltar muito forte, com menor gap nas parciais. Promete ser uma disputa bonita.


Joanna: tenho uma sincera admiração por Joanna Maranhão, que vi pela primeira vez em 2001, em Uberlândia, quando eu nadava meu primeiro brasileiro e ela já era cotada como promessa brasileira. A prata nos 400 medley no primeiro dia e o choro no pódio tem um significado muito maior do que esse resultado pensado individualmente. Mesmo o tempo em si não é tão forte – Joanna fizera os mesmos 4’46 em Santo Domingo, no PAN de 2003, há oito anos, e de lá para cá já nadou muito menos que isso. Tudo aconteceu de forma rápida para Joanna: surgiu para o absoluto em 2003, conseguiu medalha no PAN, e um ano depois estava em Atenas fazendo o melhor resultado da natação feminina brasileira em Olimpíadas, conquistando um quinto lugar com fortísimos 4’40. O prognóstico a sua frente era promissor, mas por uma série de motivos ela jamais chegou perto desses resultados. Mesmo o 4’40 ela só repetiu uma vez, em Pequim, mas não baixou os centésimos cravados feitos na Grécia.
Este ano, Joanna disse que nunca mais nadaria 400 medley. Mas de lá para cá mudou muita coisa também: Vanzella foi mandado embora do Minas em circunstâncias que até hoje ninguém sabe explicar, Joanna também saiu do clube e foi treinar com Roseana Carneiro, única técnica mulher até hoje a integrar uma Seleção Olímpica, quando treinava Kaio Márcio. Joanna é polêmica, briga, e tem muitos desafetos – não sei afirmar se isso a ajudou ou se foi um dos motivos para os contratempos em sua carreira, é mais fácil dizer que sua personalidade é assim. Não sei se Joanna conseguirá nadar abaixo dos 4’40 e se chegará às Olimpíadas, mas torço que sim. Confesso que me emocionei com seu choro no pódio – há poucas coisas tão difíceis como voltar. Espero que “volte” mais ainda, e que caia o 4’40″00 em Londres.

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