Julho de 2009. Como nos velhos tempos, antes de Nadal e Djokovic, eram Roddick e Federer que se enfrentavam na final. Quem viu não se esquece de um jogo que parecia interminável, de se perguntar onde aquilo ia parar, de às vezes praguejar, maldita regra de Wimbledon de não ter tie break no último set, e às vezes agradecer, obrigada pela chance de ver essa partida linda.
Era a terceira final de Roddick em Wimbledon e parecia que ia dar, mas o norte-americano parou no mito Roger Federer. Nunca esqueço do momento da premiação após aquele 16-14 no quinto set, Federer com o microfone na mão dizendo “eu sei como você se sente, perdi para o Nadal ano passado em uma partida parecida”, e Roddick incapaz de não reagir, mesmo no canto dele, mas todo mundo viu: “só que você já ganhou isso cinco vezes….”.
O tênis é o esporte dos gentlemans, o próprio cerimonial impõe que seja assim, mas antes disso bate um coração ali atrás. Como ouvir Federer dizendo que sabe como você se sente? Perder é ruim, mas perder sem nunca ter ganhado é muito pior (Roddick já tinha um Grand Slam, justamente o US Open seis anos antes, mas nunca tinha levado Wimbledon).
Nesses anos de hegemonia de Nadal e Federer, e mais recentemente de Djokovic, foi no US Open que dois intrusos chegaram ao topo. Juan Martin del Potro, naquele mesmo 2009 de Roddick perdendo por pouco, derrotando o mesmo Federer. Que jogo, que título. E dessa vez, Murray.
Hoje esse Andy, o britânico, conquistou seu primeiro Grand Slam. Em vários momentos da partida pensei que seria um jogo similar ao de Roddick há três anos, e que ele perderia com o gosto da quase vitória. Cruel demais. Murray chegou a sua primeira final de Grand Slam em 2008, no mesmo US Open. E não é fácil acabar a partida e sentar no seu banquinho esperando ser chamado para a cerimônia de premiação, sendo obrigado a se comportar como um lorde, com todas as câmeras e pessoas e fotógrafos ao seu redor, sem nem esboçar raiva, essa reservada no máximo para aquele momento em que só a toalha no rosto te separa do mundo.
Dessa vez ele sentou no banquinho como campeão. Tão dolorido que mal conseguia comemorar. Talvez a dor e a êxtase de hoje o tenham impedido de sequer pensar direito no que falar, mas o discurso que verdadeiramente mostra o tamanho desse título foi aquele da final de Wimbledon, quando Andy começou dizendo “Estou chegando mais perto”, e disse que não conseguia nem olhar para seu time naquela hora. Agora deve ser difícil olhar também.
Voltamos alguns dias e Roddick está em quadra com aquele Del Potro, o campeão em 2009. Foi das mãos desse argentino de 23 anos que saiu o derradeiro ponto da carreira desse outro Andy, justamente na quadra onde ele se consagrou, em casa, como não pode ser melhor. Jogo terminado, Del Potro nem comemorou e fez uma reverência a Roddick. Não bastasse, ele mal falou ao microfone: “hoje o dia é sobre ele”. Pode haver algo de piegas nesse mundo do tênis, mas fechemos por um dia os olhos para as críticas e vamos interpretar que o que há é respeito, cordialidade, beleza, como esse esporte é belo. Com o microfone na mão, Roddick agradeceu a todos, ao empresário, morto no ano passado, à torcida, riu falando de como deve ter sido difícil torcer por ele em alguns momentos, chorou, e resumiu bem quando disse, como o Guga falou naquele discurso que até hoje não vi melhor, que tinha amado cada minuto de tudo aquilo.
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