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  • Depoimento: o fim de Phelps x Cavic e o fundo de tela do meu computador

    10/10/2012 por Beatriz Nantes em Memória, Natação, Notícias / Sem comentários

    Acabo de ler que Cavic assinou os documentos formais de sua aposentadoria das piscinas. Com os papéis, ele deixa de estar exposto aos testes antidoping da FINA – caso resolva voltar, ele precisa notificar a Federeção e só pode retornar às competições nove meses após o anúncio (foi o que aconteceu com Thorpe ano passado, por exemplo).

    Milorard Cavic ficou conhecido depois de quase estragar a festa de Phelps nas Olimpíadas de Pequim. Aquela prova é uma das mais sensacionais da história da natação. Por tudo que envolvia – o sétimo ouro de Phelps em Pequim, repetindo o feito que Mark Spitz alcançara 36 anos antes -, pelos personagens, pela forma como foi. O azarão contra o favorito imbatível. Até hoje, vejo a prova e tenho certeza que Phelps vai perder. Fora aquele revezamento 4×100 livre na mesma competição, eu nunca vi Phelps vibrar tanto como nessa vitória.

    Adoro essa prova de Pequim, mas a que tem mais significado para mim é a que aconteceu um ano depois, em Roma.

    Estávamos no penúltimo dia de um Mundial em que os trajes tecnológicos eram grandes protagonistas. Phelps já havia perdido o 200 livre para o até então desconhecido Paul Biederman, e de forma humilhante para ele – por 1.2 segundos, sem nem ter chance contra o alemão. Ele estava bravo.

    Cavic estava embalado pelo ouro no 50 borboleta, mordido pela derrota um ano antes, e já tinha visto Phelps perder uma prova. Era a chance de sua vida.

    Patrocinado pela Speedo há anos, Phelps nadava a competição de LZR. O traje também era tecnológico, mas não parecia tão avançado quanto os modelos do Jaked e Arena. Inevitavelmente esse argumento iria surgir como uma das explicações para a derrota de Phelps para Biederman, ao menos por parte da imprensa. Falando sobre isso, Cavic acabou provocando:  “Se o Mike quer um Arena, ele só precisa dizer. Se ele quer um Jaked e eles não querem dar a ele de graça, eu compro para ele. Ele tem opções. Acho que na mídia está parecendo que ele não tem opção, ele é obrigado a nadar de Speedo, mas isso é uma mentira completa”.

    Foi com esse pano de fundo que chegamos àquele sábado. E o que se seguiu foi essa prova:

    Se em Pequim Phelps vibrou como nunca, dessa vez vimos um Phelps explodir depois da vitória. De raiva engasgada, da derrota para Biederman, da encheção de saco que tinham virado os trajes, do que teve que ouvir. Aquele foi o Phelps mais humano que já vi, e a prova maior de sua genialidade: com seu LZR, depois de estar aparentemente mal na competição, ele foi lá e ganhou.

    Os trajes saíram do controle, e a FINA fez muito bem em acabar com eles, mas aquela prova lembrou que há homens e mulheres fazendo o trabalho por baixo do uniforme. Assim como Phelps tem todo o mérito de ter vencido com uma roupa inferior às demais, quem bateu recordes com trajes também tem seus méritos, sim. O traje faz muita coisa. Mas não tudo.

    O fundo de tela do meu computador é essa foto ai embaixo. Phelps apontando para seu maiô. Aqui é Phelps. A tecnologia faz muita coisa, a análise biomecânica, a roupa, a nutrição esportiva, os avanços da ciência, do trabalho fora d’água. Mas isso tudo sozinho não faz nada.

    Sentirei muita falta de ver Phelps e Cavic competindo.

    Uma curiosidade: Sem nunca ter se naturalizado, Cavic defendeu três países diferentes nas quatro Olimpíadas que disputou, em função dos conflitos nos Balcãs. Em 2000, com 16 anos, estreou em Sidney pela Iugoslávia. Foi desclassificado no 100 borboleta. Em 2004, chegou às semifinais da mesma prova e acabou em 16o, dessa vez defendendo Sérvia e Montenegro. Na época, ele treinava no Race Club, o clube fundado por Gary Hall Jr. para velocistas. Na fatídica edição de 2008, Cavic defendia a Sérvia. Em 2012, definitivamente pela Sérvia, terminou em quarto.

    Beatriz Nantes é criadora do Esporte em Pauta e apaixonada por natação desde que se entende por gente.
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