Tenho algumas lembranças de Barcelona 92, principalmente da final do vôlei contra a Holanda. Atlanta 96 foi a primeira Olimpíada que eu realmente acompanhei, tinha 11 anos e como toda criança era inocente e não tinha idéia do que rolava com dirigentes de confederações, patrocínios, doping etc… apenas torcia, e muito, para o Brasil.
O resultado do Brasil naquela Olimpíada surpreendeu (3 ouros, 3 pratas e 9 bronzes). Foi de longe a melhor participação brasileira, e eu sabia o detalhe de cada uma das medalhas. Na minha cabeça de 11 anos tinha chegado a hora do Brasil e a expectativa para
Sydney foi imensa. Lembro da minha ansiedade para a chegada dos Jogos, lembro de ler tudo o que saia no jornal sobre as Olimpíadas, incluindo um guia detalhado de cada esporte que o Estadão lançou que tenho até hoje. E lembro principalmente de fazer projeções das possíveis medalhas do Brasil. Depois do Pan de Winnipeg os prognósticos eram os melhores, tinhamos muitos favoritos. Rodrigo Pessoa, Robert Sheidt, Torben Grael, os voleis de praia, futebol, judô, atletismo… quantos ouros conseguiriamos?
Ai veio a Olimpíada e a decepção dia após dia. A realidade do que era o esporte do Brasil comparado com as potências no mundo foi bem clara e todos favoritos foram caindo. Futebol para Camarões, Sheidt e Torben na vela, Rodrigo Pessoa, pessoal do judô, vôleis de praia…. Alguns com vexame e outros até com medalhas, mas não lembro de “comemorar” as medalhas do Brasil. Durante aqueles 15 dias toda minha torcida cega e inocente pelo Brasil foi virando ceticismo. Comecei a ter muita raiva da patriotada das transmissões da TV aberta. Posso dizer que a Olimpíada de Sidney foi quando perdi a inocência de torcer cegamente pelo Brasil, passei a ver o esporte com outros olhos…
Chegávamos ao final dos Jogos e no atletismo (como nos outros esportes) acumulávamos fracassos, como Maurrem Magi e Claudinei Quirino (que chegou com o gabarito de ser medalhista no Mundial e acabou ficando apenas em sexto nos 200 metros). Ai chegou o 4×100 masculino!
Nas Olimpíadas de 96 o Brasil, ainda com Robson Caetano, tinha buscado um histórico bronze. Aquela medalha que ninguém esperava foi muito comemorada. Assim, eu tinha um sentimento ambíguo com relação a essa prova em Sidney, com a expectativa grande gerada pelo bronze em Atlanta, junto ao ceticismo que desenvolvi ao ver todos os fracassos do Brasil. 90%de mim tinha
certeza que o Brasil ia queimar, ou ia vir bem até algum erro na última passagem acabar com qualquer chance de medalha, mas 10% ainda tinha esperança, e torcia desesperadamente por algum resultado bom naquelas duas semanas horrorosas.
Com direito a narração do Galvao Bueno a prova começou… Vicente Lenilson abriu… passou para Edson Luciano… que passou para André Domingos… que passou para o Claudinei Quirino, que entrou na reta em terceiro. A medalha de bronze estava muito perto e ele ainda engoliu o cubano na reta enquanto o Galvão gritava “É prata… é prata… é prata…. essa prata vale ouro!” Por mais clichê que seja, pra mim valeu mesmo. Aquela prata fez os 10% de mim que ainda torcia não virarem 0%, e de certa maneira influenciou muito a paixão por esporte que tenho até hoje. Por mais cético que eu possa ser hoje, não tem como ser louco por esporte sem ter esses 10% de torcida infantil e cega dentro da gente.
E sempre que o Brasil está nas Olimpíadas, tem 10% de mim esperando pelo improvável acontecer.
Eduardo Barbosa é mestre em economia e esse ano vai tirar férias para ver as Olimpíadas, mesmo que só na televisão.
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