Por Paulo Gomes
Meu momento olímpico inesquecível trata de um dos esportes mais tradicionais dos Jogos Olímpicos, a Maratona. Assim como as Olimpíadas, a Maratona teve origem na Grécia Antiga. Diz a história que a modalidade foi criada em homenagem a um soldado grego que correu da cidade de Maratona até Atenas para avisar os atenienses de uma invasão bárbara. O esforço foi tanto que o soldado faleceu ao dar a notícia depois de percorrer os cerca de 40 quilômetros.
Hoje as maratonas tem uma distância oficial de 42.195 metros e os melhores do mundo completam as provas em pouco mais de duas horas. O momento que trato aqui foi justamente nos Jogos de Atenas – 2004, quando parte daquele percurso feito pelo soldado há 2.500 anos foi corrido novamente por fundistas de todo o mundo.
A história é famosa: Vanderlei Cordeiro de Lima, brasileiro, liderava a prova em mais de sua metade, suscitando esperanças de uma medalha de ouro em toda a nação. Aos 36 quilômetros, foi atacado por um lunático religioso que queria aparecer. Vanderlei parou, se desvencilhou, mas perdeu tempo, velocidade, ritmo e, mais importante em uma corrida de longa distância, concentração.
Acabou ficando com o terceiro lugar e a honraria Pierre de Coubertin, concedida pelo Comitê Olímpico Internacional como homenagem, emocionando o Brasil. Mais do que o extremo conformismo de Vanderlei com o episódio – apenas lamentou o ocorrido em vez de criar caso, o que seria justificável – mais do que a extrema humildade – recusou em rede nacional a medalha de ouro oferecida pelo jogador de vôlei de praia Emanuel – e mais do que o extremo pieguismo nacional na exaltada “medalha de bronze que vale uma de ouro”, o que chamou atenção foi o que realmente justificou sua medalha Pierre de Coubertin.
A homenagem é concedida aos que demonstram “grande espírito olímpico”. Mais do que tudo o que foi citado, o que caracterizou esse espírito foi a persistência de Vanderlei em Atenas. Interrompido, poderia muito bem ter parado e ninguém poderia ter o acusado de nada. Poderia muito bem ter feito um escarcéu com a organização, já que o ocorrido foi realmente um absurdo.
Mas não fez nada disso. Ele sabia que a participação em uma Olimpíada muitas vezes é o mais bonito na carreira de um atleta e não cogitou abandonar, seguiu correndo para completar. Conhecendo-o, não tenho dúvida de que o faria independente da colocação em que estivesse.
Dos quatro representantes que o Brasil leva para as provas olímpicas deste ano no tradicional esporte, dois estiveram em Pequim nas últimas Olimpíadas e desistiram no meio da Maratona. Que Vanderlei Cordeiro sirva de exemplo para os fundistas brasileiros em Londres.
Paulo Gomes é Jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero. É repórter do Webrun e fundador do Esporte Universitário.Net.
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