Foi uma semana de perda irreparável para o atletismo mundial. O triplista Nelson Prudêncio, medalhista olímpico em 1968 no México e em 1972 em Munique, nos deixou na última sexta-feira. Sua trajetória, suas conquistas e sua importância para o Esporte e Educação no nosso país já foram bem citadas em todos os meios de comunicação. Neste texto quero apenas ratificar o grande exemplo que Nelson nos deixou atuando pós aposentadoria nas pistas.
Não há dúvida de que Prudêncio é um amante do Esporte, do Atletismo e da prova que o projetou para a fama. Como todos sabem, além de estupendo atleta ele seguiu carreira universitária e produziu uma tese de doutorado sobra a prova. Era professor na UFSCAR e também atuava como dirigente na Cbat. Sabemos também da dificuldade que é ter um título de doutorado e se tornar professor universitário,mas para Nelson o assunto da sua tese parece que deixou o caminho mais ameno. Teorizar sobre algo que marcou sua vida e que ele amava ajudou a superar as barreiras naturais do caminho acadêmico.
Considerando que na atualidade vemos alguns ex-atletas querendo transmitir conhecimento baseado apenas na sua vivência prática, Nelson mostra que pode-se ir muito, mas muito mais longe. Obviamente ninguém precisa chegar no patamar dele para poder transmitir e compartilhar conhecimento, mas um mínimo de teoria e estudo se faz necessário. Quando Nelson resolve estudar a fundo a prova de Salto Triplo na formação do atleta, ele claramente mostra que se preocupou em deixar um legado não só histórico – pelas suas conquistas – mas também teórico. Quando ele falava sobre salto triplo era com propriedade, baseado em argumentos sólidos conquistados também em anos de estudos e de pesquisa.
Salto triplo é uma prova peculiar aqui no Brasil. Não temos muitos praticantes. Até mesmo dentro do Atletismo ela não é nem de perto a mais praticada. Mas ainda assim produzimos três medalhistas olímpicos e ex-recordistas mundiais e recentemente estávamos entre os tops do mundo na prova com Jadel Gregório, atual recordista Sul-americano. Algo de especial acontece nesta prova aqui. Deveríamos olhar com muito mais atenção para ela. Deveríamos ter a mesma atenção que Prudêncio tinha. Não é exagero dizer que o Salto Triplo é uma das principais provas onde o Brasil lançou destaques mundiais - e isso comparado ao Esporte tupiniquim e não só ao Atletismo nacional.
Para nossa alegria, assim como Nelson temos vários ex-atletas que seguiram carreira acadêmica tornando-se também professores doutores, médicos, fisioterapeutas, nutricionistas, treinadores com base teórica e outras profissões que exercem com maestria. Mas por nossa má cobertura esportiva nos meios de comunicação, já debatida superficialmente aqui, o exemplo de Prudêncio acaba tendo um apelo midiático muito maior. Quem sabe um dia teremos mais destes exemplos estampados nos jornais. Por que não esperar que esse episódio do nosso triplista/doutor também sirva para incentivar a divulgação destes outros exemplos?
Nelson se vai mas deixa um legado e exemplos. Mostra que o bom atleta também pode ser um bom professor. Mostra que o grande atleta através do estudo pode enobrecer ainda mais. Mostra que precisamos dar a devida atenção para uma prova onde já conseguimos, mesmo com restrições, produzir espetaculares atletas. Mostra que se deve batalhar, não importando qual via, naquilo que se gosta e se acredita. Mostra que se pode alcançar o sucesso em diversas fases da vida. Obrigado, Nelson Prudêncio.
Rui Barboza Neto é bacharel em Esporte pela Escola de Ed. Física e Esporte da USP, treinador de atletismo e preparador físico da Associação a Hebraica de São Paulo. Foi comentarista do UOL nas provas de salto com vara e em altura
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