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  • Opinião: Pé fraturado de Feofanova mostra que as críticas sobre Fabiana Murer foram injustas

    08/10/2012 por Rui Barboza Neto em Atletismo, Opinião / Sem comentários

    Há alguns dias recebi pela Beatriz Nantes esta notícia. Com a polêmica que se deu durante os Jogos sobre a Fabiana Murer, o vento e sua desclassificação, não podia deixar de escrever algo relacionado. 

    Como leram na matéria, a russa Feofanova quebrou o pé no seu segundo salto. Pra quem não se lembra, neste salto ela caiu fora do colchão (você pode relembrar assistindo aqui adiantando o video até 2h13m14s). No dia poucos deram importância para o fato. Quando criticaram Fabiana pela desistência de saltar nem se preocuparam em comentar que a experiente russa Feofanova, ex-recordista mundial, medalhista olímpica (prata em Atenas e bronze em Pequim), passou pela mesma dificuldade. Eis que, pouco mais de um mês depois, Feofanova mostra o estrago deste salto e tece críticas à organização dos Jogos.

    Temos dois pontos para analisar. O primeiro é a constatação que o vento pode sim prejudicar de forma lesiva o atleta no salto com vara. Já escrevi bastante sobre este assunto, não pretendo me alongar nele, este fato é apenas mais um dos que embasam minha opinião. Se tiverem curiosidade para saber mais sobre minha opinião, clique em “O vento realmente estava oscilando muito e atrapalhou Fabiana Murer”, “O vento que derrubou Fabiana também trouxe lições para a torcida“,  “O vento de Fabiana se tornou um furacão de piadas injustas” e “Fracasso nos Jogos não pode ser determinante para o ostracismo do atleta”.  Quando muitos tiraram sarro da nossa atleta talvez não acreditassem nessa hipótese. Espero que hoje reconsiderem tal opinião.

    O segundo é a crítica à organização dos Jogos. Ela realmente errou em deixar a prova seguir? Foi displicência por parte dela? Tais perguntas devem tomar sempre um certo cuidado antes de serem respondidas. Analisando e conversando com quem vivenciou aquela semana de Jogos no Estádio Olímpico, o vento estava forte e oscilante durante os três primeiros dias. Depois ele continuou de forma mais branda. A arquitetura destes estádios são pensadas para este tipo de situação, ou seja, analisa o impacto de uma ventania no estádio. Não acredito que este Estádio teria sido mal projetado como a russa chegou a afirmar dizendo que a área de salto estava no local errado. Depois de construído são realizados eventos menores e são nestes em que se pode conhecer alguma dificuldade ou empecilho com o objetivo de fazer mudanças em tempo hábil. O reconhecimento do Estádio pelos atletas antes dos Jogos também serve para saberem quais dificuldades serão encontradas. Portanto, a meu ver houve uma ventania um pouco incomum no local durante alguns dias que influenciaram na prova e não um erro na construção ou localização do setor do salto com vara.


    Ainda assim a Organização não pode ser isenta de culpa, pois se há uma ventania incomum ela poderia intervir e adiar a prova. Porém, todos sabem que o calendário olímpico é apertado, qualquer alteração influencia e muito na programação. Para a Organização tomar tal atitude a situação teria que estar insustentável. Não era o caso. Não há dúvidas que muitas atletas sofreram com a situação. Mas também temos que reconhecer que para algumas teve pouca influência e para uma não teve influência. Então como decidir? Seria justo com a atleta que se preparou para tal situação a Organização adiar a prova?É notório que qualquer decisão geraria críticas. Infelizmente foi uma situação atípica e para nossa atleta e para a russa Feofanova o vento levou as chances de pódio. Feofanova preferiu criticar a Organização, está no seu direito, mas no meu modo de ver serve apenas como explicação para seu insucesso.

    Parafraseando Lauret Godoy, no esporte não existe lógica e a vitória é o resultado de um momento.  Isso resume muito a situação. No dia as situações estavam adversas e passou da qualificação quem conseguiu superar tais dificuldades. Porém isso não determina a habilidade de um atleta nem tão pouco a falha na organização. As dificuldades existem no esporte, o atleta conseguirá superar algumas e em outras terá problemas. A Organização só pode intervir quando há claras evidências que a prova não pode ser realizada. E estas evidências devem apresentar risco iminente ou impossibilidade de execução da prova para a maioria dos atletas. No dia aconteceu que o risco se mostrou razoável mas não suficiente para adiar a prova. As atletas encontraram uma forma de superá-lo, mesmo que suas marcas fossem bem mais baixas das que estão habituadas. Fabiana preferiu não arriscar. E infelizmente nos Jogos Olímpicos tudo ganha uma dimensão maior. E assim Fabiana recebeu duras críticas que cada vez se mostram mais falhas. Uma pena que o pedido de desculpas nunca virá.

    Rui Barboza Neto é bacharel em Esporte pela Escola de Ed. Física e Esporte da USP, treinador de atletismo e preparador físico da Associação a Hebraica de São Paulo. Foi comentarista do UOL nas provas de salto com vara e em altura

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