O título deste texto não podia ser mais óbvio, mas quando o assunto é a chegada ao auge, quase obrigatório.
Sonhar em estar numa Olimpíada não é privilégio de atletas.
Minha primeira lembrança do maior evento esportivo do planeta aconteceu há 32 anos.
Me via lá, ao lado do mosaico do mascote Misha, que encantou o mundo direto de Moscou, quando as transmissões ao vivo começavam a deixar de engatinhar.
Quatro anos passaram, e o troco soviético ao boicote, tirou boa parte do brilho dos jogos de Los Angeles.
Em Seul 88, os prazeres da adolescência desviaram o foco. O esporte corria forte em minhas veias, mas outras ofertas ocupavam a cabeça.
Quando os quatro cantos do globo se voltaram pra Barcelona, eu gozava dos primeiros meses de estágio.
Jornalismo ! Era o caminho mais curto pro atleta frustrado alcançar a medalha sonhada. O alto do pódio.
Dividia o atendimento aos ouvintes da Rádio Cultura AM de São Paulo, com os jornais. Mergulhava fundo nas notícias. E vibrava com a formação do timaço de José Roberto Guimarães, que ganhou o primeiro ouro olímpico coletivo para o Brasil.
Para muitos, a capital da Catalunha sediava a maior Olimpíada de todos os tempos.
O aprendizado das ondas do rádio me lançou para a televisão.
Conhecer pessoas certas era a ponte. Ser eficiente e profissional, o caminho.
Depois de um ano, a contratação, num canal esportivo.
As TVs por assinatura eram a novidade, e quem estivesse no lugar certo, seria tragado.
Aos 24 anos, começava o trabalho que para muitos, inclusive eu mesmo, era uma diversão.
1995 passou voando… e em 96, os Estados Unidos receberiam mais uma vez a elite do esporte mundial.
A ESPN Brasil, prestes a completar um ano de vida, não podia ficar de fora, E lógico, não ficou.
Os meses que antecederam a escolha dos menos de 10 funcionários que iriam para Atlanta, movimentaram a redação. Afinal de contas, grande parte da equipe era de garotos. ‘Focas’ que chegaram ali pelos motivos que eu conhecia tão bem.
Quando o diretor de jornalismo abriu a lista, fiquei em choque… pra não dizer em pânico.
E uma pergunta não me abandonava: ‘Será que um ano e meio de treinos seria suficiente para vencer ?’
Foi quando soube que faria parte do quarteto que iria acompanhar a seleção brasileira de futebol.
Justo futebol ? O que pra mim sempre foi um ‘sub-esporte olímpico ?’ Vou pra Miami e não Atlanta ?
Questões… questões… questões…
Dane-se ! Era Olimpíada ! Não importa o endereço. Não importa que não vai ver a natação, o atletismo ou o judô.
A estreia tem local e data marcados ! Com apenas 25 anos !
Ao chegar na Flórida, sobravam desafios na minha primeira cobertura da seleção. Sem credenciais oficias, o acesso aos jogadores era limitado. Encontrar e falar com Aldair, Rivaldo, Bebeto, o ainda não fenômeno mas já famoso Ronaldo, Juninho Paulista e outros, era loteria.Para assistir as partidas, precisamos comprar ingressos comuns. A estrutura era pequena. Dependíamos de favores. E de quebra, convivia com problemas internos na equipe.
Os dias passavam rápido: derrota para o Japão na estreia esquentou o clima no time de Zagallo. Mas vieram vitórias contra Hungria e Nigéria, e a classificação para as quartas de final. A obrigação pelo ouro inédito, fez o país acompanhar ainda mais de perto a campanha. Expectativa que cresceu ainda mais depois da goleada contra Gana.
A briga por medalha fez time e jornalistas mudarem de endereço. As finais aconteceriam em Athens, na Geórgia.
Apesar de estarmos no Estado de Atlanta, mantivemos distância além do regulamentar da capital oficial dos jogos.
Naquela altura já estava absolutamente possuído pela competição. E pouco preocupado em ter que acompanhar apenas de longe as braçadas de Gustavo Borges, as bandejas de Hortência e Paula, e a arrancada fulminante que nos deu o bronze no revezamento.
Brasil e Nigéria de novo. Faltavam dois passos para o título.
Ingressos na mão. Posição no meio da torcida…
O time ia bem… mas veio a prorrogação com morte súbita…
Todos conhecem o desfecho: gol de Kanu… 4×3… e os africanos na final.
Naquela quarta-feira não vimos nem ouvimos os jogadores. A missão era outra: acompanhar o batuque e a festa negra em verde e branco. Festa que terminou em título cinco dias depois.
Para o Brasil ficou o bronze nada festejado, e sem aparição no pódio.
Foram 22 dias pro resto da vida.
Não há dúvida: A PRIMEIRA VEZ A GENTE NUNCA ESQUECE
Thiago Blum começou na TV Cultura e está na ESPN Brasil desde o início do canal. Hoje é editor chefe do Sportscenter primeira edição. Participou da cobertura das Olimpíadas de 1996, 2000 e 2004 e estará em Londres nesse ano. Cobriu também as Copas do Mundo de 1998, 2002, 2006 e 2010.
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