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  • Especial: A volta de Ian Thorpe

    02/02/2012 por Beatriz Nantes em Natação, Personagens / Sem comentários

    Há exatamente um ano, no dia 2 de fevereiro de 2011, Ian Thorpe anunciou sua volta competitiva às piscinas, visando as Olimpíadas de Londres. A última vez que a maior estrela da história da natação australiana havia nadado uma competição internacional tinha sido em 2006, nos trials para o Commonwealth Games, mesmo ano em que anunciou aposentadoria aos 24 anos. A última vez que nadou em alto nível foi nas Olimpíadas de 2004, quando ganhou o 200 livre na prova mais esperada da competição (estavam na piscina Pieter van den Hoogenband, Thorpe, e Phelps) e levou o bicampeonato no 400 livre.

    Vai dar certo?

    Desde a primeira competição, no dia 4/novembro do ano passado, na etapa de Cingapura da Copa do Mundo, Thorpe não conseguiu chegar perto de seus melhores resultados, tampouco de integrar o time olímpico. Na ocasião, ele nadou 100 medley e 100 borboleta, a primeira nem olímpica e a segunda longe de ser sua especialidade. De lá para cá, Thorpe nadou outras etapas da Copa, o Victorian Open, na primeira atuação na Austrália desde 2006 – curiosamente, na mesma piscina onde nadou pela última vez – e a última competição foi o Euro Meet em Luxemburgo no último final de semana.

    O nadador incluiu os 100 e 200 livre no seu programa – provas que pretende nadar em Londres, tanto no individual como buscando uma vaga para o revezamento. As duas tentativas serão muito duras: no 100 livre, Magnussen tem o melhor tempo do mundo sem trajes (47″49), feito no Mundial ano passado, e este ano já nadou para 48″05. Além dele, Matt Target, Matt Abbod e Eamon Sullivan vão disputar a vaga na unha, e vai ser difícil tirar alguém deste revezamento que ano passado foi campeão mundial -mesmo que tire, ainda há outros nomes na frente de Thorpe, como o jovem Cameron McEvoy.Para o 200, o time australiano não está tão forte, mas o quarto melhor tempo do ano passado foi de McEvoy nadando para 1’48”05.

    Seu melhor tempo no 100 livre até o momento foi o 50″76 de Luxemburgo, e no 200 o 1’50”79, os dois bem aquém de seu melhor e do necessário para compor o time australiano. A grande questão que se discute no momento é o pouco tempo que resta a Thorpe até os Trials, em março.Ele e o Head Coach da Seleção Australiana, Leigh Nugent, vem sustentando que somente lá será possível avaliar sua volta, que o treinamento está em um fase dura e ele tem nadado pesado. Compartilho da visão de que só nos Trials será possível fazer uma avaliação da volta, mas a cada competição parece mais difícil acreditar que Thorpe conseguirá, em tão pouco tempo, abaixar os tempos na magnitude necessária – sua ex técnica declarou que ele devia ter voltado seis meses antes, e ele mesmo já deu declarações nesse sentido. Mas de nada adianta Thorpe estar voando em agosto se agora, em março, não nadar bem e ficar fora do time.

    Curioso que a mídia especializada americana vem insistindo não só no fracasso da volta, como levantando suspeitas sobre os resultados passados de Thorpe, em função do maiô utilizado há mais de dez anos (quando, de fato, ninguém tinha um traje como aquele, e ninguém até hoje sabe direito do que era feito), sutilmente perguntando se sua performance arrasadora não tinha mais a ver com o supermaiô  do que com o talento do australiano.

    O maiô levanta suspeitas mesmo, mas o vídeo de Thorpe ganhando o Mundial com 15 anos, nadando de sunga, para mim é a maior prova de que estamos falando de um gênio das piscinas. Ademais, os americanos nunca engoliram direito o sucesso do Thorpedo, por motivos óbvios. E é aqui que chegamos à importância de Thorpe.

    O significado do Thorpedo
    Não são poucas as grande provas do Thorpedo. Depois do Mundial de Perth, em 1998, ele chegou às Olimpíadas de Sidney, em casa, como maior estrela da equipe australiana – não apenas da natação, mas de toda a Selecão. E abriu sua participação levando o 400 livre com novo recorde mundial de incríveis 3’40”08 – nenhum nadador até hoje bateu esse tempo sem trajes, e com trajes, o único foi Paul Biederman, por apenas 1 centésimo.

    Mas a prova do dia ainda estava por vir.

    Revezamento 4×100 livre em Sidney, 2000. A Austrália, em casa, abre com Michael Klim nadando para 48.08, recorde mundial da prova e colocando uma diferença boa frente os EUA, campeões da prova nas últimas quatro edições dos Jogos. Mas o time americano foi tirando a diferença com os outros nadadores e para fechar, o velocista nato Gary Hall Jr. caiu com boa vantagem sobre Thorpe. Meio fundista, que não tinha nos 100 sua especialidade,Thorpe já nos primeiros 50 metros ficou muito mais para trás.

    O que se viu foi Thorpe com um final alucinante passnado Gary Hall no final e levando o ouro para a equipe da casa. (Interessante que o tempo de Thorpe nem foi tão fantástico como o de Lezak em 2008. Ele nadou para 48.30, pior até do que o tempo de Klim abrindo; o que impressiona é a imagem dos últimos metros).

    Outra atuação genial foi nas Olimpíadas de 2004. Primeiro o 400 livre, uma prova cheia de significados. Thorpe havia falhado nas prévias australianas, tendo conseguido a vaga após muita pressão que levou Craig Steves ceder sua vaga para o compatriota. Mas o histórico de Thorpe nas grandes competições era incrível: ele foi campeão em Perth (1998), Sidney (2000), Fukuoka (2001), Barcelona (2003), chegando em Atenas como tricampeão mundial e sem perder uma disputa importante dos 400 livre há cinco anos. O 3’43”10 não foi um grande tempo, mas o título foi importantíssimo e afastou temores de que não estaria bem na competição.

    Mas a melhor atuação estava reservada para o 200 livre. Quatro anos antes, Thorpe inesperadamente perdeu em casa o ouro para Pieter van den Hoogenband, acabando com o sonho do bicampeonato. Em Atenas, a prova do século trazia os mesmos protagonistas, com a adição do badalado Michael Phelps, que já em Atenas nadava em busca dos oito ouros e já era um dos maiores nomes da história da natação. A prova é fantástica, e foi a última grande atuação dele antes de se aposentar.

    Apaixonado

    A melhor declaração de Thorpe desde a volta eu vi no o Daily Telegraph:  ”I’m loving life. It’s fantastic. I think the best thing for any athlete who is having time off is you can drop all the baggage that you didn’t like. The time off made me realise how fortunate I was to have been an athlete, and not many people get to be like us. It is amazing”. [Tradução liver: "Eu estou amando a vida. É fantástico. Eu acho que a melhor coisa para qualquer atleta que está parado é que você pode deixar cair toda a bagagem que você não gostou. O tempo fora me fez perceber o quão sortudo eu era por ter sido um atleta, e muitas pessoas não conseguem ser como nós. É incrível."]

    Thorpe está treinando na Suécia com Gennadi Touretski, antigo técnico de Popov e Michael Klim. Fale-se em uma mudança no jeito de nadar, misturando o estilo de Popov e o de Thorpe antes de parar, com o técnico tentando dar a ele o que foi chamado “sprinter’s technique”, dizendo que seu estilo era desenhado para eficiência e não para força. De acordo com o jornal The Australian: “this altered technique starts with more hip rotation, which gives him greater range of movement in the shoulders, and results in those high elbows. It also changes the balance between his once-dominant kick and his increasingly powerful pull”.

    Para quem não conhece, uma entrevista interessante com Touretsky datada de novembro de 2009:

    O jornalista Mike Colman escreveu um texto curioso comparando a volta de Thorpe e de Geoff Huegill, especulando sobre os motivos de cada um. Enquanto Huegill nunca chegou a ser tão vitorioso quanto Thorpe (ainda que tenha sido um grande nome da natação australiana, recordista mundial e medalhista olímpico) e se viu diante de um problema médico, chegando a pesar 140 kg após parar, Thorpe não tem nada faltando em seu currículo, e ao contrário não chegou a engordar de forma tão preocupante mesmo tendo saído de forma. Especulando sobre os motivos que fizeram Thorpe encarar uma volta tão dura, ele diz acreditar que Thorpe estava entediado e nunca esteve tão feliz nos últimos cinco anos como agora: “I reckon he’s making this comeback because he was bored. (…) Did you see how his eyes were sparkling as he answered the questions at those press conferences? He hasn’t looked so happy for five years. He loves the attention, the competition, the cheers, the cameras. He’s hooked on it every bit as much as Huegill was hooked on pizza and beer”. [Tradução livre: "Acho que ele está fazendo esse retorno porque ele estava entediado. (...) Você viu como seus olhos brilhavam enquanto ele respondia às perguntas naquelas conferências de imprensa? Ele nunca esteve tão feliz em cinco anos. Ele adora a atenção , a competição, os aplausos, as câmeras.Ele é viciado nisso tanto quanto Huegill era viciado em pizza e cerveja."]

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