Imagine você, aos 13 anos de idade, ouvir isso: “E agora, senhoras e senhores, vamos receber os oito melhores nadadores de todo o país nessa prova”. Não existia monotonia em competições de natação se Mario Xavier estava presente – especialmente em provas de fundo.
Mario Xavier, locutor da CBDA por mais de duas décadas e conselheiro vitalício do Corinthians, morreu hoje aos 91 anos. Ele foi pioneiro, ainda em meados do século passado, em anunciar os nadadores, mudando a forma de ver natação no Brasil.
Ainda este ano Mario foi locutor em sua última prova, durante o Sul-Americano absoluto, quando anunciou os 1500m livre. Ouso dizer que ele gostava mais de falar sobre as provas longas. Era durante essas provas, em competições nacionais da categoria infantil ao absoluto, que ele fornecia todas as parcias do nadador na liderança, pedia atenção ao público para a “passagem teórica” necessária para alcançar um índice ou quebrar um recorde, chamava a torcida para incentivar os atletas que travavam boa disputa.
Me lembro bem do Troféu Brasil de 2000, quando ele narrou a prova de 800 livre de Nayara Ledoux Ribeiro, até hoje nossa melhor fundista, quando ela alcançou o índice para o Mundial, e da prova de Monique Ferreira, que fez o índice do 400 livre exatamente em cima da marca exigida. Para momentos como esse, Mario fazia questão de pedir aplausos pela vitória, contextuando a marca alcançada. À Best Swimming, que ano passado homenageou Mario Xavier com o Prêmio Reconhecimento do Ano, ele contou o momento mais marcante de sua carreira, narrando o recorde sulamericano de Reynaldo Fleck, no 1500m livre, quando o público que já havia deixado o local começou a voltar para a piscina e incentivar o nadador em função da narração empolgante de Mario Xavier. Vale a pena ler aqui.
Mas não precisava ser em um Finkel e não precisava ser um índice para o Mundial. Com a mesma energia e elegância no discurso, ele anunciava campeões brasileiros infantis, chamava os atletas para “marcharem para os degraus da vitória” na ida ao pódio, e pedia atenção para os finalistas, anunciados calmamente raia a raia, naquele último contato seu com o mundo exterior antes de cair na piscina. Nos intervalos entre as provas, Mario lembrava do patrocinador oficial da natação brasileira, Correios, com seu tradicional: “Sedex, mandou, shhhhhhhh… chegou”.
Muito respeitado pela comunidade aquática brasileira, Mario Xavier foi treinador e diretor de Esportes Aquáticos do Corinthians, clube do qual foi sócio desde 1939, e onde dá nome ao Torneio Timão de Natação – Troféu Mário Xavier, que reúne crianças não federadas. Além disso, Mario foi Consultor da FAP (Federação Aquática Paulista), da CBDA (Confederação Brasileira de Esportes Aquáticos) e da FINA (Federação Internacional de Natação), e chefe da equipe de natação do Brasil na Olimpíada de 1976, no Canadá.
Esse texto é uma homenagem, pelas tantas vezes em que eu fui dormir sonhando com o dia que ouviria Mario Xavier anunciando minha entrada para nadar a final de um brasileiro, e pela honra de ter conseguido ouvir meu nome apresentado por ele.
1 Comentário
NomeRogério CACO Guimarães
Confesso que as lágrimas insistiram em cair, enquanto lia esse e outros textos que falavam de Mario Xavier. Não só por ele, mas também pelas ótimas lembranças de muitos momentos vividos. Lembro de uma volta de campeonato Brasileiro Junior; estávamos no avião eu, Paulinho Suzuki, Roberta ,Rui Ewald (filho) e Lia Flávia. Ao lado da Lia estava ele; Mario Xavier, que recebeu o lanche oferecido pela comissária, olhou para a Lia Flávia e disse: “você aceita? não posso comer isso”… adivinha se Lia e Ruizinho não dividiram o lanche??
Obrigado Mario Xavier!!
12 set 2012 08:09 pm (@Twitter)
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