Versátil dentro da piscina, Natalia de Luccas foi provavelmente uma das maiores surpresas da natação brasileira em 2013. Aos 17 anos, a nadadora do Corinthians superou o recorde sulamericano dos 200 costas durante o Brasileiro Junior de Verão, saindo de vez do destaque nas categorias de base para o absoluto. Natalia chegou a São Paulo em 2011, depois de nadar no Gran São João, em Limeira, desde os 3 anos de idade. Nesta entrevista, ela fala sobre essa mudança, comenta o grande leque de provas (é bem forte também nos 100 livre, em que fez o 5º melhor tempo do Brasil em 2013: 55”9) e sobre a importância do Mundial Junior: “Depois de lá eu voltei com outra cabeça. Vi que tempos absurdos, que pareciam impossíveis de fazer aqui, eram feitos lá fora e nem chegavam à final”.
Beatriz Nantes: Ano passado você foi para o Mundial Junior e bateu o recorde sulamericano. Foi o melhor ano da sua vida?
Natalia de Luccas: Com certeza! Ano passado acho que consegui muita coisa que eu não esperava. Treinei muito para isso. Foi um ano muito bom, mas eu espero que esse ano seja ainda melhor.
BN: E o que você espera desse ano?
NL: Estou pensando no Pan Pacific. Estou perto do índice nos 100 costas, que é 1’01’’39 e eu tenho 1’01’‘50. Nos 200 costas também, que é 2’11’’09 e eu tenho 2’12’’09. E tem também o Mundial de curta, que espero conseguir uma vaga.
BN: Como foi o BHP Billiton na Australia? Foi sua primeira seleção absoluta, como foi isso depois de tantas seleções de categorias?
NL: Eu fiquei mto feliz de estar lá. Claro que a gente não estava na melhor forma, estava treinando pesado. Mas foi muito legal para servir como motivação, ver os outros atletas competindo. Essas competições são boas para isso.
Foto: Satiro Sodré/SSPress
BN: Nas categorias de base você nadava (e ainda nada) bem o 50 e 100 livre, além das provas de borboleta. Você treina velô ou meio fundo? Como é sua rotina?
NL: Aqui no Corinthians eu treino meio fundo, mas eu gosto de nadar bastante provas. Não gosto de ficar só em uma. Até para ter um leque grande, e se uma prova acaba não saindo na competição, tem outra para poder nadar. Eu gosto mesmo de pode nadar várias provas.
BN: De todas essas, qual a preferida?
NL: Agora eu estou nadando bastante costas, que eu gosto. Mas gosto bastante do crawl também.
BN: E como surgiu o costas? Foi no Corinthians ou no Gran São João você já treinava também?
NL: Quando eu vim para o Corinthians, vim nadando crawl e borboleta. Costas eu nadava pouco. Com o Carlão [Carlos Matheus, head coach do Corinthians e técnico de Natalia], eu aprimorei. Foi ele que meio que descobriu o costas para mim. Agora com ele, treino bastante costas e estou focando bem no Pan Pacific.
BN: Com crawl, borbo e costas fortes, e um medley?
NL: Eu acabo nadando como quarta prova em absoluto, até pela ordem das provas. Mas é quarta prova, o foco são as outras.
BN: Como foi sua vinda para o Corinthians? Como foi tomar essa decisão e como foi sair de casa?
NL: Eu nadava no Gran em Limeira, no interior. Daí em 2010 eu recebi o convite para o Corinthians. Desde o primeiro dia que meus pais vieram conhecer a estrutura e o clima, a gente sentiu uma energia muito grande aqui, do Carlão e do clube mesmo. Estamos muito felizes aqui. Minha mãe veio comigo, até para me ajudar mesmo. Eu acho que fiz a melhor escolha que poderia ter feito, estou gostando muito.
BN: Como é sua rotina de treinos? Você estuda também?
NL: Eu treino de segunda a sábado. Três vezes por semana eu dobro. Segunda, quarta e sexta, faço também musculação das 11h ao meio dia. Eu estou no terceiro ano no Colégio Amorim. Como o Corinthians tem parceria com a UNIP, eu acho que tenho que aproveitar, penso em fazer faculdade. Tenho que treinar e cumprir meus deveres, mas acho que é importante estudar também. É bom também para não ficar bitolada em natação.
BN: E você gosta de treinar?
NL: Eu gosto! Acho que eu aprendi que sem treino não tem como nadar bem, então eu gosto de treinar sim.
BN: E de competir?
NL: Eu gosto de competir, sou bem competitiva. Gosto de estar nadando para ganhar, e odeio perder… tem que ir aprendendo. É importante aprender a se superar, nadar forte, eu gosto de competir por isso.
BN: Em que momento, se é que isso aconteceu, você percebeu que queria ser nadadora profissional, que não era algo só de categoria de base?
NL: Acho que tudo é importante, cada fase é uma descoberta nova. Eu penso degrau por degrau. Mas foi depois do recorde sulamericano que caiu a ficha que eu não era mais juvenil, que estava no absoluto. Agora cada vez mais a gente tem que se afirmar na natação.
Foto: Wlad Veiga
BN: Você estava esperando esse recorde sulamericano? Antes do Brasileiro seu melhor era 2’15.
NL: Foi um pouco inesperado. O costas, principalmente os 200, é uma prova que eu nunca nadei confiante. Diferente dos 100, que eu já estava nadando bem. Mas eu sabia, pelos treinos que eu estava fazendo, que os 200 ia ser bom. O Mundial Junior foi importante, porque depois de lá eu voltei com outra cabeça. Vi que lá fora tem tempos absurdos, que pareciam impossíveis de fazer aqui, e que eram feitos lá fora e nem chegavam à final. Foi uma boa experiência para ver isso.
BN: Você pensa em 2016?
NL: Eu penso bastante nisso. É um sonho que eu estou buscando, tentando chegar cada vez mais perto. Mas até lá eu tenho que passar por outras fases, Pan Pacific, Mundial…
BN: Você tem algum ídolo? A Missy Franklin nada suas provas…
Eu gosto bastante da Fabíola, ela é minha maior inspiração.
BN: Vocês se conhecem né?
NL: Sim, no Open a gente bateu um papo rápido. Ela é minha maior inspiração mesmo. Se eu chegar até a idade que ela chegou nadando, vou ficar muito feliz.
BN: Você já viajou bastante, quantos países conhece por causa da natação? Qual gostou mais?
NL: Eu acho que 7 países. Cada um tem a sua história. Mas eu gostei bastante da Austrália, que a gente foi agora, e de Dubai também, porque foi meu primeiro Mundial. Cada viagem te marca de um jeito.
BN: Nos 100 livre, você terminou 2013 com o quinto melhor tempo do país, atrás só das meninas que foram ao Mundial. Essa prova está nas suas metas?
NL: Sim, é com certeza a minha terceira prova, a principal depois do costas. Acho que vou buscar nadar cada vez melhor, porque tenho que estar bem colocada para conseguir representar o Brasil no revezamento, que eu gosto de nadar. E até para conseguir entrar em uma competição absoluta pelo rev.
BN: E um 200 livre, nao dá pra pensar? Seu melhor é 2’04”….
NL: É uma prova que o Carlão quer muito me ver nadando. Mas sempre acaba pegando uma outra prova minha no Maria Lenk e Finkel, geralmente o 100 costas. Fica difícil nadar na mesma etapa. Quando dá eu nado, mas não é o foco.
NL: Nossa… o Carlão… a relação é ótima. Ele é, de verdade, como se fosse um segundo pai. A gente se dá muito bem.
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