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  • Jason Lezak se aposenta aos 37 anos

    16/01/2013 por Beatriz Nantes em Memória, Natação, Notícias / 1 Comentário

    Pequim, 2008. Quando subiu na baliza para fechar o revezamento 4×100 livre norte-americano, Jason Lezak carregava com ele duas participações olímpicas, quatro medalhas no total. Com 32 anos e 8 meses, era o segundo mais velho dos 32 nadadores presentes na épica prova.

    Épica pelo que ele faria dentro de alguns segundos. Para ser mais exato, em 46 segundos e seis centésimos. 

    Não é que ele tivesse fama de amarelão – se tivesse, podia até estar no revezamento da final, mas não seria colocado para fechar. Mas Lezak também não era um verdadeiro destaque norte-americano em grandes competições. Muitas vezes, ele nadava melhor na seletiva americana do que na competição propriamente dita.

    Foi assim em 2004, quando Lezak chegou a Atenas como o principal velocista americano – tinha sido segundo no 50 livre na seletiva e primeiro no 100. O resultado: ganhou medalhas “apenas” nos revezamentos, onde cumpriu seu papel, sem nadar extraordinariamente e também sem estragar tudo. Nas provas individuais, a participação foi quase pífia: não passou nem da eliminatória no 100 livre e foi quinto no 50 livre.

    E costumava ser assim nos Mundiais também. Lezak, assim como nosso Thiago Pereira, bateu várias vezes na trave. Entre Barcelona, Montreal e Melbourne, foi quarto duas vezes, quinto outra, muitas vezes depois de passar das eliminatórias com o primeiro tempo. Para um cara de 32 anos, tantas vezes parte do time americano, que já fora líder do ranking mundial na prova mais nobre da natação, não ter nenhuma medalha individual em disputas desse porte era um pouco frustrante.

    Com esse histórico, e por isso desconhecido de muitos ao redor do mundo, Lezak caiu na piscina naquela noite em Pequim. E não poderia ser punido se terminasse a prova em segundo. Porque caiu na água em segundo, e tendo ao seu lado, na frente, o recordista mundial da prova, Alain Bernard, 25 anos. E outro pequeno detalhe: Lezak treinava sozinho para aquela Olimpíada. Não sozinho sem companheiros de treino. Sozinho sem técnico, desde 2006.

    Então em qualquer outra circunstância, perder aquela prova seria até ok. Mas daquela vez não era, porque se terminasse em segundo, Lezak acabava com o implícito sonho de oito ouros olímpicos de seu colega Michael Phelps. E acreditemos em milagre ou não, o milagre aconteceu.

    2008 Beijing Olympics Swimming Men’s 4 x 100m Freestyle Relay Final from Meazza on Vimeo.

    Veja: isso não tem nada a ver com gostar ou torcer pelos EUA. Tem a ver com um cara fechando um revezamento da forma mais incrível que o mundo já viu. Até hoje, se assisto essa prova – especialmente depois da última virada – eu tenho certeza que Bernard vai chegar na frente. Em que mundo o velho Lezak, aos 32 anos, passaria o recordista mundial? Oito anos mais novo? Para selar o primeiro ouro de revezamento da história da França em Olimpíadas? Nos últimos metros? Só mesmo em Pequim. Só mesmo Lezak, where amazing happen.

    Mas a felicidade plena de Lezak ainda estava por vir. Porque se foi brilhante no revezamento e encontrou a redenção perante o país inteiro, Lezak ainda perseguia sua medalha individual. Talvez por estar mais relaxado, talvez mais motivado, ele fez seu segundo 100 livre mais perfeito. Nadando na raia 7, ao lado de nosso Cesar Cielo, tão do lado, Lezak foi o terceiro a bater na parede. E Cielo também. Juntos, os dois dividiram o bronze naquela prova, um bronze com muitos significados para ele e para Cielo também.

    Veja a reação de Lezak ao ver que tinha finalmente conseguido sua medalha:

    Lezak pensou muito forte em parar depois de Pequim. Francamente, onde ele iria além daquilo? Em 2012 teria 36 anos. Seu agente Evan Morganstein fala como Lezak começou a fazer uma série de discursos motivacionais e clínicas, e os dois discutiam se era necessário que ele continuasse competindo para fazer tais atividades. “Vimos que Jason ainda tinha a paixão, e isso pesou mais que o dinheiro para ele decidir se ia tentar fazer o time em 2012. Ganhar a medalha individual teve uma grande parte nisso também”.

    Lezak voltou a treinar. E em 2009 surpreendeu a todos ao optar pelos Maccabiah Games ao invés do Mundial de longa, que coincidiram nas datas. Em termos da natação competitiva, os Jogos não representam nada. Mas ele queria representar os judeus norte-americanos na competição, e assim o fez. No final de 2009, seu primeiro filho nasceu, e Lezak treinava de manhã (ainda sozinho) e cuidava dele a tarde, quando sua esposa ia trabalhar. “A parte mais difícil era naquelas dias que eu me esforçada demais – como os atletas sabem, nesses dias eles só querem chegar em casa e relaxar ou dormir – mas não havia tempo relaxar. Não foi fácil”.

    Incrivelmente, a participação de Lezak na seletiva olímpica americana aos 36 anos, em 2012, foi melhor do que aos 20 anos, em 1996. Naquela ocasião ele foi apenas 30o no 50 livre, longe de uma vaga para competir em Atlanta. Em 2012, ficou em nono na semifinal do 100 livre, a poucos centésimos da vaga na final. Era o fim. Mas Ryan Lochte abriu mão da prova, e Lezak entrou na final. Fez então exatamente o que precisava para ser convocado para Londres: terminou em sexto, conseguindo a última vaga, que deu a ele o direito de nadar a eliminatória do revezamento na competição. Aos 36, foi o mais velho do Team USA na capital britânica.

    Aos 37 anos, Lezak anunciou sua aposentadoria. Soma oito medalhas olímpicas, sete em Mundiais de longa e sete em curta. E para sempre será o maior protagonista de um dos revezamentos mais incríveis da história da natação.

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    • Jason Lezak

    1 Comentário

    • Edson Chaccur

      Ótimo texto! Raros jornalistas brasileiros saberiam a fundo o histórico desse atleta que poderia ter ficado no quase, mas que fez história.

      16 jan 2013 02:01 pm (@Sport_VC)
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