Nasci em 1988, mesmo ano que a Gabriella Silva. Quando tinha 13 anos, idade em que começam os brasileiros de categoria, eu nadava borboleta. Assim como ela. Mas não que nem ela: desde sempre, a Gabi destruia na piscina. Eu fui apenas 10a naquele brasileiro infantil 1 de Belém onde ela já foi campeã ou vice. Não lembro direito, mas sei que ela já fazia 1’05 ou 1’06. Era lindo ver ela nadando.
Às vezes, quando pessoas que fazem parte da minha vida hoje perguntam sobre essa época da minha vida, eu mostro o resultado dessas competições e falo com orgulho “já nadei com a Gabriella Silva!”.
O tempo passou e em 2008 eu estava no primeiro ano do curso de jornalismo. Meu professor de Jornalismo Básico I, Celso Unzelte, pediu que entrevistássemos alguém de destaque em seu meio de atuação. Na hora, pensei nela. Isso porque algumas semanas antes eu tinha me visto arrepiada dentro de um laboratório de edição, ao ler escondida do professor a notícia no Blog do Coach sobre o índice olímpico dela e da Daynara. A Gabi já estava muito perto, então quando eu vi que a Daynara fez o índice, uma série antes, pensei “putz, será que ela vai conseguir também?”. E ela conseguiu, com folga. Uma prova que anos antes não tinha nenhuma brasileira nadando para 1’01, e de repente tinha duas fazendo índice para Pequim. Incrível.
Então, naquele dia pensei que queria entrevistá-la. Eu tinha nadado em Santos com a Carol Moncorvo, minha amiga, que eu sabia que tinha ficado muito amiga da Gabi quando foi nadar no Pinheiros. Pedi pra ela se podia tentar, e deu certo. A Gabi disse que tinha muita gente pedindo entrevistas (a mídia aparece quando os resultados aparecem, mas eu juro, já acompanhava a carreira dela desde sempre!), e pediu para fazermos por telefone. Aceitei, é claro.
Foi minha primeira entrevista de verdade. Preparei várias perguntas e dissequei a carreira dela, desde os tempos do Rio, a ida para São Paulo, o início da saga de quebra de barreiras (primeiro o eterno recorde sulamericano, depois o 1’00, depois o 59’’, e foi indo…). Ela respondeu a tudo com paciência e foi muito simpática. Um tempo depois, mandei email perguntando se ela permitia que eu publicasse a matéria, ela foi simpática de novo. E o Coach a publicou, pode ver aqui.
Foi muito legal ver a Gabi destruindo em Pequim. E depois em Roma. Nunca vou esquecer do repórter no final daquele quarto lugar falando que ela tinha ficado tão perto do bronze (8 centésimos), mas que ele não queria falar do que ela não fez, e sim do que ela fez. E ela chorou. É claro! Oito centésimos! Mas mesmo assim abriu seu sorriso e respondeu.
O esporte é cruel várias vezes. Foi cruel nesse dia. Mas foi muito mais cruel nas lesões que sempre atrapalharam sua carreira. E mesmo assim ela continuava tentando. Essa é só uma frase de efeito muitas vezes, mas eu queria repeti-la para deixar bem claro: ela continuava tentando. Mesmo sentindo dor, todos os dias. Acordando com dor, nadando com dor, soltando com dor. Todos os dias. Como ela bem disse hoje, ao anunciar sua aposentadoria no facebook, “Mas a gente tem que saber a hora de parar, antes que a vida pare pra gente”.
Para a natação, fica a saudade: em dois meses, vimos parar duas gigantes e finalistas olímpicas, Flávia e Gabriela. Parte fundamental da melhor geração de nadadoras que o Brasil já teve até hoje.
Pra mim, sempre será orgulho já ter nadado uma prova com ela.
Sucesso e boa sorte, Gabi!
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