A entrevista de Michael Phelps ao 60 minutes, onde o nadador comenta, entre outros assuntos, sua intenção de aposentadoria após as Olimpíadas de Londres, me fez pensar em como será a natação após Phelps, seja agora ou daqui a quatro anos.
Não sei se as pessoas que acompanham natação de longe tem noção da dimensão de Phelps. A quantidade de medalhas olímpicas é tanta (16 no total e oito ouros em apenas uma edição) que já ouvi alguns comentando que é muito estranho um esporte que permite tantos pódios diferentes. Algo como: o cara é bom mesmo, mas será que é tanto assim? Não é natural da natação que o cara bom ganhe tanta coisa? Não, não é normal.

Com 15 anos, o primeiro ouro em Mundiais
Tirando os revezamentos, Phelps foi ouro olímpico nas provas de 200 e 400 medley, 100 e 200 borboleta e 200 livre. Verdade que não há disparidades como uma prova de fundo e outra de velocidade, mas a especialização no esporte hoje é tamanha que muitas vezes ser o favorito no 100 livre não te faz ser favorito no 50 livre, o mesmo valendo para as provas de 100 e 200 estilo. Estamos vendo isso hoje com James Magnussen e César Cielo.
Aliás, Phelps também é muito competitivo na nobre prova de 100 livre: em Pequim, o tempo com que abriu o revezamento 4×100 livre daria a ele o bronze na prova naquelas Olimpíadas, à frente de Cielo e Lezak, que foram terceiro empatados. Ser campeão olímpico duas vezes na mesma edição, levando o 100 e o 200 do mesmo estilo, é algo muito, muito grande. Ganhar cinco ouros individuais escapa da minha capacidade de abstração. Talvez porque fosse (e ainda seja) abstrato até que uma pessoa mudasse isso: Phelps.
Phelps é versátil e tem um físico monstruoso que o permitiu cair 17 vezes na piscina entre eliminatórias, semifinais e finais em Pequim. Cair e levar ouro em tudo, ficando sem bater o recorde mundial apenas no 100 borboleta, aquela prova incrível vencida por um centésimo, que até hoje, se assisto, tenho certeza que ele vai perder.

Após o sétimo ouro, no incrível 100 borbo de Pequim
Somam-se às 14 medalhas olímpicas um total de 33 medalhas em Mundiais de piscina longa desde 2001, sempre em provas olímpicas. Foi nos Trials para esse longínquo Mundial que ele se tornou o mais novo nadador da história a bater um recorde mundial, com 15 anos e 9 meses, na prova de 200 borboleta. Além de tudo, ele é precoce.
Mal posso esperar por todas as disputas de Londres, com ou sem Phelps. O 100 e 200 peito podem trazer o tri para Kitajima, Sun Yang promete destruir o recorde de Thorpe sem trajes no 400 livre e baixar ainda mais o espetacular 1500. Cielo e Magnussen farão duelos incríveis nas provas de livre. E Phelps fará o embate mais esperado dos Jogos, o 200 medley contra Ryan Lochte.
Depois de Phelps
O que eu fico me perguntando é como será assistir um 200 medley sem ele. Como vai ser ver o 200 borboleta, prova em que tem a maior hegemonia – ganhou o ouro nas Olimpíadas de 2004 e 2008, e nos Mundiais de 2001, 2003, 2007, 2009 e 2011, só não competindo em 2005 – sem a presença de Phelps? Novos nomes surgirão, mas como será uma Olimpíada com a ausência do maior monstro de nosso esporte? Tenho certeza que lembrarão de Phelps daqui a muitos anos e apontarão o americano como o maior do mundo. Vejo como amantes do futebol sentem inveja de quem diz que viu o Pelé jogar, e não consigo deixar de me sentir privilegiada por estar assistindo a história do esporte ser escrita.
Torço para Craig Lord estar certo, quando diz em sua coluna ao Swimnews que Phelps deve atender ao pedido de sua mãe e competir no Rio-2016. O colunista fala que está saindo do forno um circuito profissional de natação da FINA, que levaria os principais nadadores a competir ao redor do mundo com pagamentos generosos envolvidos, substituindo a hoje esvaziada Copa do Mundo de piscina curta. De acordo com fontes de Craig Lord, Phelps continuaria após Londres se as condições estivessem fechadas.
Beatriz Nantes é criadora do Esporte em Pauta, ex-nadadora fundista e apaixonada por natação desde que se entende por gente.
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