Poderia gastar linhas falando das lições óbvias que aprendi com meus técnicos de natação: a importância de se construir um resultado, cair após as derrotas, respeito aos adversários, disciplina. Tudo isso é muito bonito, tão bonito que já chega a ser meio clichê, de tão incorporado na minha vida.
Nesse dia após a comemoração do dia dos professores, lembrei de três outras lições que aprendi com os três técnicos da minha vida.
1. “Melhor não julgar os outros; todo mundo tem uma história e nós não conhecemos”
Sempre tive o costume de, logo após sair do pódio, tirar a medalha do pescoço e guardá-la – tinha pavor que alguém me visse desfilando com aquilo e inferisse que eu era uma menina metida e exibida. Em algum Campeonato Paulista, fui almoçar com o Caco (meu técnico por grande parte da vida e amigo até hoje) e avistamos uma mãe com uma medalha no pescoço, algo que sempre achei meio ridículo. Fiz alguma piada sobre isso.
No ônibus de volta para o hotel, me lembro claramente do Caco falando: “Bia, parei para pensar naquela mãe que estava com a medalha. Também acho meio estranho. Mas nós não conhecemos a história dela, né? Nem da família. Às vezes eles passaram por algo difícil, às vezes tem que fazer muitos sacrifícios para o filho nadar. Enfim, não sabemos. E como não sabemos, não podemos julgar”.
Nunca esqueci disso. Continuo julgando as pessoas no impulso mas, dentro de mim, sempre lembro disso. É uma ideia meio parecida com um mantra que tenho ouvido com frequência, de ser gentil com os outros anônimos que passam em nossa vida; não sabemos que tipo de fardo as pessoas carregam.

2. A sinceridade do “Eu não vou torcer para você”
Nadei no mesmo clube, Saldanha, por muitos anos. A Unisanta era a principal força da cidade e, todo ano, perdíamos atletas para lá. Eu ficava indignada, odiava o Santa. Até que, por muitos motivos, resolvi ir para lá em 2004. Contar para o Caco e o Marcelo, meus dois técnicos durante meus anos de Saldanha, foi uma das coisas mais difíceis da minha vida (mas, ainda bem, minha mãe me mostrou a importância de ter dignidade e fazer isso pessoalmente, algo que muitos atletas olímpicos esquecem mesmo com 25 anos na cara).
Caco foi muito tranquilo; ele já estava meio de saco cheio de ser técnico. Me desejou sorte e sucesso. O Marcelo não. Ele ficou triste, pediu para eu ficar e foi muito sincero: falou que não torceria por mim, não porque não gostasse de mim, mas porque gostava demais. Aquilo pegou em mim muito forte, mas confesso que admirei muito a sinceridade e o sentimento.
Além disso, foi importante para eu aprender que toda escolha na vida envolve uma renúncia. Não dá para sair de um lugar e esperar que todos achem lindo. Assim como não dá para terminar com alguém, mudar de emprego, falar o que pensa, se posicionar sobre algum assunto e esperar que todo mundo goste.
Isso em nada alterou o que nós tínhamos vivido e a importância do Marcelo na minha vida. Hoje, torço por ele e vibro com cada conquista; sei que a recíproca é verdadeira.
3. Se melhorar, melhora.
Treinei com o Gérson só por um ano, mas foi o suficiente para amá-lo para o resto da vida, mesmo que com uma relação bem diferente e menos fraternal do que tive com Caco e Marcelo.
Eu achava engraçado ver suas broncas coletivas, a forma como ele falava e ficava bravo, a forma como cobrava seriedade. E dentre todas as coisas que ele falava, nada foi tão marcante do que o “para com essa coisa de ‘se melhorar estraga’. Pelo amor de deus molecada, vamos PARAR DE SE SABOTAR!! Se melhor melhora, esse discursinho ai é a coisa mais ridícula do mundo”.
Incorporar isso na minha vida é uma tarefa diária; sou uma pessimista por excelência. Mas essa filosofia gerseniana não é um ode ao otimismo desmedido ou uma visão infantil de que tudo sempre ficará bem; é um discurso em prol de colocar menos minhocas na cabeça e aceitar que não há problema nas coisas boas que acontecem com você. Não precisa estar sempre desconfiando do universo. Tudo pode dar errado ou certo, independente se estava dando certo ou errado antes.




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