Michael Phelps alcançou em 2008 a inédita façanha de conquistar oito ouros em uma mesma edição dos Jogos Olímpicos, extrapolando sua genialidade dentro das piscinas para se tornar um dos maiores atletas da história em todos os esportes. No entanto, uma barreira ainda não foi alcançado pelo norte-americano: o tricampeonato olímpico.
Até hoje, nunca houve um nadador, no masculino, a vencer a mesma prova em três Olimpíadas. No feminino, duas atletas já conseguiram o feito, a australiana Dawn Fraser, que venceu o 100 livre em 1956, 1960 e 1964, e a húngara Krisztina Egerszegi, ouro no 200 costas em 1988, 1992 e 1996.

Kitajima tem grandes chances de levar o tri
Em Londres, dois nadadores terão essa oportunidade: Michael Phelps e Kosuke Kitajima. Aaron Peirsol também foi bi no 100 costas nas últimas duas edições dos Jogos, mas se aposentou em 2010 e não poderá defender seu título e lutar pelo tricampeonato. Tanto Phelps como Kitajima tem plenas condições de conseguir esse feito histórico, tanto pelo currículo como pelos resultados que vem apresentando este ano.
Phelps poderá tentar o tri em quatro provas individuais: o 200 e 400 medley e 100 e 200 borboleta, enquanto Kitajima poderá tentar o bi nas duas provas de peito, o 100 e o 200 do estilo. Um dado curioso é que, pelo programa de provas, caso Phelps não nade o 400 medley, como tem sustentado, Kitajima pode alcançar o feito antes do americano. Isto porque a final do 100 peito é no segundo dia de competições, antes das demais finais de Phelps. Já se nadar o 400 medley, Phelps pode abrir a competição já quebrando esse novo recorde – essa prova abre as finais da natação nos Jogos, distribuindo o primeiro ouro da modalidade em Londres.
O japonês voador rumo ao tri
As chances de Kitajima nas duas provas são grandes. No 100 peito, após a trágica morte de Dale Oen, atual campeão mundial da prova, acredito que o japonês perdeu o principal adversário. Será uma final desfalcada e muito triste sem o norueguês. Depois de ser apenas quarto no Mundial do ano passado, Kitajima tem os dois melhores tempos de 2012, sendo o único sub-59”até o momento, um 58”90 nos Trials do Japão. Creio que não só ele vai para o ouro, como chegará muito perto do recorde mundial, feito ainda na era dos trajes (58”58). Nessa prova, os principais adversários devem ser o conterrâneo Ryo Tateishi (59”60, segundo melhor tempo do ano), o italiano Fabio Scozzoli, prata no Mundial do ano passado com 59”42, e e o sulafricano Cameron van der Butgh, bronze na ocasião com 59”49, além do brasileiro Felipe França (59”63 no Maria Lenk).
Já no 200 peito, Tateishi está ainda mais próximo e há chances reais de uma dobradinha. Os dois bateram o recorde mundial sem trajes nos Trials e tem juntos os quatro melhores tempos de 2012. Daniel Gyurta, atual campeão mundial e com uma segunda parcial muito forte, é grande concorrente ao pódio também.
Phelps vai fazer história de novo?
A performance de Phelps permanece uma incógnita, mas o que temos visto nos Grand Proixs e a perspectiva da aposentadoria sinalizam para mais uma Olimpíada fortíssima do nadador. Ele segue como favorito no 100 e 200 borboleta, provas que venceu ano passado no Mundial mesmo sem estar treinando tão forte. Phelps não perde um 100 borboleta em Mundiais/Olimpíadas desde Atenas-2004, quando foi batido por Ian Crocker em Barcelona, enquanto no 200 a hegemonia vem desde 2001.

Quem vai ganhar a disputa mais esperada de Londres?
O 200 livre e 200 medley permanecem em aberto. Phelps perdeu as duas provas para Ryan Lochte no Mundial do ano passado, mas o que vem mostrando este ano indica que a disputa vai ser, ao menos, mais acirrada. O mais interessante é que as derrotas parecem ter sido o impulso que faltava para Phelps voltar a se dedicar 100% a natação, algo que ele admite não ter feito desde as Olimpíadas de Pequim. Por outro lado, não dá para descartar Lochte só porque agora Phelps vem “com tudo”: o nadador está treinando pesado e foi o único a bater um recorde mundial feito na época dos trajes, algo digno de respeito.
No 200 medley, Phelps nadou pesado para 1’56”32, um tempo muito forte, que provavelmente será próximo ao bronze da prova em Londres, nesta que é na minha opinião a prova mais forte da atualidade. Explico: desde que os trajes foram abolidos, nenhuma prova tem um nadador superando um recorde feito na era dos trajes; no 200 medley, não só Lochte alcançou o feito, como o segundo colocado Phelps ficou a apenas seis centésimos. Para Londres, espero os dois nadando para 1’53, com a disputa entre os dois impulsionando marcas muito fortes. Os dois devem fazer um belo duelo também no 200 livre e no 400 medley, caso Phelps decida colocar a prova em seu programa olímpico.
Acredito que não só a natação verá seu primeiro tri campeão olímpico no masculino em 2012, como isso acontecerá mais de uma vez. As provas de Phelps e de Kitajima serão imperdíveis.
Beatriz Nantes é criadora do Esporte em Pauta, ex-nadadora fundista e apaixonada por natação desde que se entende por gente
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