Contribuição de Camila Lacerda
Confesso que quando o destino, caprichoso que é, sorteou o único confronto fora de casa que o Brasil poderia ter na rodada que lhe daria a chance de voltar à elite da Copa Davis, já visualizei a derrota. Não só porque pegaria a Rússia, forte equipe mesmo que não imbatível, mas também porque jogaria lá, não aqui. No carpete e não no saibro. O confronto foi se aproximando e junto dele vinha um Belucci com um desempenho abaixo do esperado em seus jogos de simples da temporada. Não posso mentir, meu pessimismo só piorou. Mesmo assim acompanhei, torci e me surpreendi com o que aconteceu em Kazan nesses últimos dias.
A primeira rodada não foi nada surpreendente. Ricardo Mello apanhou de Mikhail Youzhny no primeiro confronto porque tem menos tênis mesmo e só um dia muito ruim do russo em um dia muito inspirado de Ricardo o faria ganhar. Depois teve a esperada vitória de Thomaz sobre o Andreev. Escolha um tanto estranha essa do técnico russo de escalar o Andreev pra jogar com o Belucci, mas enfim escalou e deu chance a uma bela exibição do brasileiro. Já no sábado e com o confronto empatado, Bruno Soares e Marcelo Melo fizeram sua parte em um belo jogo. Eram mesmo mais dupla que a parceria russa de Dmitry Tursunov e Igor Kunitsyn e por isso ganharam.
Com o Brasil na frente, os jogos de simples do domingo decidiriam o confronto. Ou melhor, o jogo entre Thomaz e Youznhy decidiria. Quem acompanha tênis e um pouco dos resultados de Belucci admira, mas também se irrita com o brasileiro sempre tão inconstante, imprevisível e com um tênis tão promissor e de alto nível ao mesmo tempo. Foi um jogaço. E ao contrário do que os cornetas de plantão possam dizer, não achei que Belucci afinou. Jogou o que sabia contra um belo jogador que teve que tirar a vitória da cartola, quando tudo estava quase perdido e decidido pro lado brasileiro da quadra. Thomaz teve momentos inspiradores durante a partida como a quebra de saque no game que faria Youzhny ganhar a partida, a força mental até o fim da linha e a vibração, que tanto lhe faltava em outras partidas.

O resto foi Ricardo jogando em seu limite em um jogo que poderia ter sido ganho não fosse o abalo que a dura derrota de Belucci deve ter lhe provocado no começo do jogo. Não fosse o fato de Tursunov ser melhor ranqueado e estar jogando em casa para decidir um confronto que a meu ver já tinha acabado no quinto set da partida anterior. Por mais que Ricardo quisesse e pudesse ganhar do Russo. Agora voltamos ao zonal, ranqueados depois do Chile e como segundo cabeça de chave da região. Na prática significa que teremos que disputar um confronto para chegarmos à partida que pode nos levar para a tão sonhada elite da Davis mais uma vez. Já há nove anos fora, só o futuro e a evolução dessa equipe nos dirá até quando.
Enquanto isso em terras Sérvias, Djokovic aos prantos abandonava a partida contra Del Potro devido a uma contusão nas costas, colocando a Argentina na final da competição. Já a esquadra de Nadal e demais espanhóis batia a França, chegando a uma final que promete muita emoção. Impossível não gostar da Davis, onde os atletas deixam de defender um nome pra defender o próprio país. É nessa competição, mais que em todas as outras, que raça ganha jogo, que o fator casa interfere, que a superação, a vibração e o inimaginável estão presentes. Vale a pena ver essa final, na lógica, daria Espanha. Mas não arrisco um palpite.
Pra finalizar, vale destacar o Feijão confirmando a boa fase com a vitória de segunda-feira sobre Tommy Robredo no saibro de Bucareste. O feito não deve passar em branco, já que o brasileiro derrotou o espanhol em sets diretos e encontra-se em 84 do mundo, sua melhor posição no ranking da ATP. A segunda rodada não parece ser nenhum bicho papão, nos resta torcer para que Feijão faça uma boa campanha. E também para que Belucci comece a acreditar cada vez mais do que é capaz, depois desse fim de semana onde seu lado guerreiro, até então desconhecido, resolveu aflorar.

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