Todos sabem que são poucos os brasileiros na elite do tênis mundial. Thomaz Bellucci é o nosso único jogador na faixa dos 100 melhores do mundo e nos últimos anos apenas ele colecionou boas campanhas nos torneios de primeira linha. Thiago Alves, João “Feijão” Souza, Rogério Dutra Silva e Ricardo Mello, viveram nas últimas temporadas uma gangorra interminável. Em momentos estão prestes a deixar o top 200, aí encaixam três semanas boas e voltam ao top 100. Jogam muitos challengers e poucos ATPs. Sobem e descem com muita facilidade.
Não há uma explicação exata para isso, mas existem fatos que podem ajudar a compreender a realidade do tênis brasileiro. Sem apoio e sem grandes patrocínios, nossos tenistas sofrem para conseguir montar um calendário da forma que realmente gostariam. Apostam muito nos torneios dentro de casa e se aventuram pequenas excursões pelas Américas, principalmente a do sul. Há também um medo de estar longe de casa, de encarar semanas e mais semanas longe da terra natal.
Com pouca experiência internacional, nossos jovens demoram mais para amadurecer, conhecer os atalhos do circuito, enfim, crescer. Como frisou o companheiro de ESPN Manuel Cunha, em uma conversa informal, até o peso das bolas é diferentes aqui e na Europa. Segundo o editor do Jornal do Tênis, deveria acontecer por aqui algo semelhante a Argentina, onde pequenos grupos de tenistas se juntam, contratam um técnico e viajam o mundo para adquirir experiência. Não é à toa que os Hermanos conseguem se destacar precocemente no duro circuito.
Nossos tenistas chegam aos challengers europeus e sofrem para colocar a mesma força na bola que põe por aqui. Muito acostumados ao clima tropical, veem o nível abaixar diante de temperaturas mais frias e as lesões também aparecem aos montes. Essa semana tivemos o vice-campeonato de Leonardo Kirche em Campinas. O brasileiro tem 27 anos e só agora beira a faixa dos 200 melhores tenistas do mundo. Não por coincidência, no início do ano – quando pensava em largar o tênis – Kirche se mudou para Santa Catarina e começou a treinar com Larri Passos. Os resultados vieram longe de casa.
Caso semelhante ao de Rogerinho, que depois de 28 primaveras e muito suor, atingiu a meta de entrar para o top 100 e jogar Grand Slams. De quebra assumiu a titularidade na Davis e vem obtendo ótimos resultados. Também treina com Larri. Thiago Alves já esteve no top 100 e foi caindo nos últimos dois anos. Após pensar na aposentadoria, escolheu muito bem os challengersque iria jogar em 2012 e briga por vaga no Finals, que reúne os oito melhores do ano.
Talento temos de sobra. Feijão e Guilherme Clezar, por exemplo, explodiram cedo no ranking, mas têm tido dificuldades para evoluir. Feijão, 24, entrou para o top 100 com boas campanhas no saibro europeu no ano passado, mas voltou para a faixa dos 150 e sofre para avançar. Clezar é mais jovem e com 19 anos já esteve no 218º lugar, mas há algum tempo sofre para alcançar as rodadas finais de challengers mais fortes e os melhores resultados aparecem no Brasil mesmo. Investimento, patrocínio, cara e coragem. É disso que precisamos.
Final de semana – Nos ATPs disputados na última semana, o destaque ficou por conta de Jo-Wilfried Tsonga, que levantou o bicampeonato em Metz. Jogando diante de sua torcida, o francês não encontrou qualquer dificuldade para levantar a taça. Muito positiva também a volta de Gael Monfils, que parece totalmente recuperado da séria lesão que o deixou afastado por meses. Ele parou nas semifinais. Entre as mulheres, Caroline Wozniacki levantou um troféu depois de 13 meses. A dinamarquesa, ex-número um do mundo, faturou o pequeno WTA de Seul e tenta voltar aos melhores dias.
Guilherme Daolio é Jornalista e Radialista formado pela Faculdade Cásper Líbero. Apaixonado por tênis por influência de seu pai, acompanha o esporte desde pequeno. No momento em que Djokovic, Federer e Nadal polarizam as quadras, Guilherme arrisca suas raquetadas por aqui. Novidades, projeções, análises, informações, apostas e tudo que envolva a bolinha amarela vira assunto.
O nosso colunista já passou pela Rede Record e pelo Portal IG. Hoje é editor de texto da ESPN Brasil e louco por tênis.
3 Comentários
Caio Leal Caneda
Concordo quanto à diferença entre os jogos aqui e na Europa. Clezar e Kirche são exemplos recentes disso, apesar dos grandes resultados nos futures e challengers por aqui, retornaram de um período na Europa no qual mal conseguiam ganhar jogos.
Por isso, fico feliz com as idas de alguns jovens tenistas para a Europa por longos períodos. Tiago Fernandes e Thiago Monteiro ficaram um bom tempo jogando futures e challengers na Holanda, Portugal etc., passando qualifyings e ganhando uma experiência muito importante. Pode não ser a melhor solução a curto prazo em termos de ranking, mas no futuro acredito que faça a diferença.
24 set 2012 02:09 pm (@Twitter)
Guilherme Daolio
É isso mesmo, Caio!
Os nosso tenistas não podem pensar apenas em ranking rapidamente e sim em ganhar experiência para bater de frente com qualquer um por aí. O Tiago Fernandes, principalmente, tem que assimilar toda a experiência de viagem que teve esse ano para engrenar.
Ranking, principalmente para os brasileiros nessa faixa, é consequência.
Obrigado pelo comentário
24 Sep 2012 05:09 pm (@Twitter)
Caio
Acho que o Tiago Fernandes ainda precisa evoluir muito para subir de nível. Os jogos que já vi dele não me animaram tanto assim, acho que falta muito peso de bola ainda para encarar jogadores de nível challenger.
Já o Thiago Monteiro parece estar começando melhor no profissional, mas ainda preciso vê-lo jogar para ter uma opinião. Tendo em vista alguns jogadores que ele já enfrentou de igual para igual, deve ser bom jogador.
24 set 2012 09:09 pm (@Twitter)
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