As Olimpíadas de Atenas foram as primeiras que acompanhei intensamente. Antes teve Sidney e antes disso Atlanta, mas foi em Atenas que realizei o quão especial era um Ano Olímpico. O quão raro era não trabalhar e poder acompanhar a transmissão dos Jogos Olímpicos o máximo possível pra ficar triste quando a cerimônia de encerramento terminasse e a programação da tv voltasse a ser infinitamente mais sem graça porque não tinha mais pódio, nem disputa, nem medalha.
Era um domingo. Último dia de Olimpíadas e eu só lembrei disso depois. Sei que estava em casa vendo a transmissão da maratona com o meu pai. A maratona justo no lugar onde ela surgiu e em seu percurso original. Tão tradicional e simbólica, tão sofrida, bonita e cheia de surpresas, sendo liderada por um brasileiro. Chegava a ser inesperada a prova do Vanderlei aquele dia. Não que eu soubesse se ele era favorito ou quem deveria levar a prova seguindo a lógica dos melhores tempos dos competidores, às vezes tão ilógica em uma maratona olímpica. Mas porque eu não imaginava que o Vanderlei pudesse despontar como líder mesmo. Nem eu, nem o narrador, nem os milhões de brasileiros acompanhando a prova no domingo.
Vanderlei assumiu a liderança lá pelo kilômetro 15, quando desgarrou do pelotão de frente e começou a correr sozinho. Do sofá de casa, não acreditava que aquela liderança pudesse durar aproximados 20 kilômetros, com um Vanderlei cada vez mais focado em conseguir o melhor resultado que pudesse alcançar. Mas a liderança durou e a vantagem para o segundo colocado aumentou. Ainda não consigo explicar a insignificância da minha descrença no bom desempenho do Vanderlei se comparada com a descrença no que se seguiu. Foi tão inesperada a entrada daquele irlandês que não tive tempo de digerir aquela intervenção. Aliás não digeri até hoje.
Nunca quis escrever sobre esse dia e sobre essa prova pra relembrar desse ataque. Quando penso no meu melhor momento olímpico só consigo lembrar do Vanderlei voltando a correr e indo buscar o maior sonho da sua vida. Só me vem à cabeça aquela entrada no estádio olímpico de cabeça erguida, sorriso no rosto e braços abertos. E ninguém deveria questionar a vitória do favorito italiano Baldini ou tentar adivinhar o que aconteceria caso as coisas tivessem sido diferentes. Aquele bronze não valeu ouro naquele domingo e nunca valerá. Mas mais que uma medalha olímpica ou uma terceira colocação na competição mais importante do mundo, aquele emocionante bronze valeu história. História essa que será lembrada por muito tempo ainda e que pra mim é inesquecível.

Camila jogou handebol e correu pela FEA USP. Hoje já é formada e corre na rua. É acima de tudo apaixonada pela beleza do esporte.
1 Comentário
Nome Maria Cristina Botta da Fonseca
Adorei a matéria!!! Realmente foi uma vitória inesquecível!!! Dessas que dificilmente irão se repetir… Parabéns pelo registro! Crris
20 abr 2012 03:04 pm (@Twitter)
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