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  • Meu momento olímpico inesquecível: o sétimo ouro de Phelps e o primeiro de uma nação inteira

    17/04/2012 por Beatriz Nantes em Home, Memória, Natação / Sem comentários

    Era sexta a noite. Sai da aula e um colega de faculdade comentou no elevador: é hoje o Cielo hein? Fiquei feliz quando cheguei em casa e estava sozinha para assistir a etapa que teria a final do 100 borboleta do Phelps e do 50 livre do Cielo, que nadaria pela raia 4.

    Em 2008, eu morava com um coreano que fazia intercâmbio no Brasil. No primeiro dia de finais, seu conterrâneo Tae Hwan Park levou o ouro no 400 livre em uma prova muito disputada, conquistando a primeira medalha de ouro da Coréia do Sul na natação em Olimpíadas. E o Joon desdenhou: “essa prova não vale nada, não tem o Phelps. E os coreanos não ligam para natação”.

    Fiquei brava. Como assim um ouro olímpico não vale nada? Ouvir o hino brasileiro em um parque aquático das Olimpíadas era tudo que eu queria. Torci para, quem sabe, poder viver esse momento um dia – embora Cielo tivesse chances no 50 livre, depois dos tempos absurdos no revezamento 4×100 livre achei que ele iria desmotivar e seria muito difícil vermos um campeão naquela edição.

    As Olimpíadas seguiram com provas incríveis. Phelps foi levando os ouros, um a um, alguns mais fáceis, outros mais difíceis. E veio a sexta-feira. Ele e o sérvio Cavic, na raia 4 e na 5, um olhando para o outro na baliza. Sou muito fã de Phelps e queria muito que ele levasse os oito ouros, uma marca histórica para o maior gênio do esporte que eu mais amo. Não me abalei quando ele passou em sétimo (ou sexto, não lembro com precisão), mas não podia acreditar quando vi Cavic na frente até o final. E bateu na frente, foi o que meus olhos viram. Mas o placar mostrou Phelps em primeiro, em uma chegada sensacional que deu, por um mísero centésimo, o sétimo ouro e uma das maiores vibrações que já vi em Phelps. Ele havia igualado Mark Spitz. Phelps, um monstro.

    Liguei para meu irmão, que ainda morava em Santos, e só sabíamos dizer: absurdo. E a expectativa por Cielo, algumas provas mais tarde, aumentava. Depois de ser bronze no 100 livre e comemorar mais que o campeão, ele tinha dito na TV que seria ouro no 50 livre. Tenho certeza que esse bronze mudou a vida de Cielo.

    Ele chegou e se posicionou para nadar na 4, tinha feito recorde olímpico na semifinal. Na saída da prova deu para vê-lo rangendo os dentes debaixo d’água, e pensei que ninguém queria aquela medalha mais que ele. O Levaux acabou ficando bem atrás, mas para mim parecia que estava do lado. Não acreditei quando a bandeira do Brasil surgiu na raia 4 com o número 1. Foi um momento incrível: finalmente, tínhamos um ouro na natação. Chorei junto com Cielo por longos minutos. Me lembro como se fosse ontem de ficar um minuto com meu irmão no telefone sem conseguir falar.

    O pódio ainda reservava uma cena única. Não gostei das outras vezes que ele chorou, nos Mundiais que venceu a partir de 2008, mas aquele choro foi genuíno, um choro que ele não conseguiu conter, o choro da prova mais importante de sua vida e do primeiro ouro de uma nação inteira. Não tenho dúvidas em dizer que foi o pódio mais surpreendente daqueles Jogos: nenhuma outra premiação tinha visto um campeão se emocionar tanto.

    Em Londres, espero ver mais momentos como esse.

     

    Beatriz Nantes é criadora do Esporte em Pauta, ex-nadadora e apaixonada por natação desde que se entende por gente.

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