Foi uma grata surpresa assistir ao revezamento 4×200 livre feminino no PAN. As análises indicavam que o Brasil teria uma luta difícil apenas pela prata, lutado contra as venezuelanas, capitaneadas pelas irmãs Andreina e Yanel Pinto, terceira e quinta colocadas na prova, com 2’00″7 para Andreina e 2’03″9 para Yanel. Mas o que se viu foi a melhor atuação das brasileiras desde Atenas-2004, quando conquistaram a segunda final olímpica de revezamento na história da natação feminina do país, terminando em sétimo.
Na ocasião, tinhamos Joanna Maranhão, Mariana Brochado, Monique Ferreira e Paulo Baracho, um revezamento consistente com quatro nadadoras nadando entre 2’01-2’02 (o recorde sulamericano era de Mariana com 2’01″17, batido somente com o início da era dos trajes). A rivalidade na piscina entre Monique e Mariana era muito saudável, forçando as duas cariocas a nadar cada vez mais forte.
Em 2004, tivemos o renascimento da natação feminina. Em uma Olimpíada de transição da geração Gustavo Borges e Xuxa para a de Thiago Pereira e Cielo, o Brasil não chegou ao pódio mas esteve em cinco finais, três das quais no feminino, na melhor performance das mulheres até hoje. Uma delas foi Joanna Maranhão, no melhor resultado de nossa história, ficando em quinto, Flavia Delaroli foi oitava no 50 livre, e o revezamento foi sétimo.
Na eliminatória, as meninas nadaram para 8’05″58, recorde sulamericano, garantindo vaga para a final, onde melhoraram 29 centésimos e cravaram 8’05″29, recorde sulamericano até hoje. Foi uma prova muito especial com quatro nadadoras guerreiras, duas pernambucanas (Joanna e Paula) e duas cariocas, e que selava uma de nossas provas mais fortes, o 200 livre, justamente pelo protagonismo das duas últimas.

De lá para cá, Paula e Mariana pararam de nadar, Monique voltou a nadar muito bem próximo às Olimpíadas de Pequim, e ano passado voltou ao Rio depois de anos nadando pela Unisanta e depois pelo Pinheiros. Joanna também se recuperou de percalços e alcançou o índice que garantiu participação individual em Pequim. Na ocasião, o 4×200 foi o único sem participação brasileira, evidenciando como aquele 4×200 de quatro anos antes fora resultado de uma geração muito forte de nadadoras da prova.
Desconsiderando os tempos feitos com trajes, nos últimos tempos as nadadoras não conseguiram superar a casa dos 2’03. Promessas acabaram não vingando e Tatiana Lemos se especializou mais nos 100 livre.
Sob este contexto, foi muito importante os 8’09″ e a prata registrada na noite de terça feira em Guadalajara. A começar pelo tempo de Joanna, que abriu para 2’01″46, marca muito boa considerando a altitude e os fatos dela ter acabado de sair da final do 200 medley, onde conseguiu o bronze e superar seu melhor tempo sem trajes, e os 200 livre não serem sua principal prova. Jéssica Cavalheiro e Tatiana Lemos nadaram para 2’03, enquanto Manuella Lyrio, que tem voltado a nadar bem, marcou 2’01″22, tempo muito respeitável.

Claro que pensando na marca da Atenas comparada com essa tivemos uma involução, e ninguém nega isso. Mas este cenário posto, e pensando no que virá, o tempo de ontem foi uma inflexão importante para reverter este quadro. Precisamos de meninas de 20 anos, como Mariana em 2004, voltando a nadar para 2’01 e 2’00 e a brigar por finais internacionais, da força de Joanna, que não pode deixar de ser citada como referência para esta prova no Brasil. Jéssica Carvalho tem tudo para ser um desses nomes, além de outras que vem se destacando no cenário nacional – como Ana Araújo, cortada a uma semana do PAN, que foi lembrada por Joanna na entrevista após a prova.
Outro ponto que me agradou muito foi a fala de Tatiana Lemos. Veterana da seleção, ela comentou que havia tempo que o Brasil não nadava bem esta prova, e este tempo já era razoável (palavras dela). Esse tipo de autocrítica é muito importante e mostra que no caso dessas quatro, não há acomodação ou ingenuidade – elas sabem o que precisa melhorar e estão lutando por isso.
*
4×200 Brasil 2011

4×200 Brasil 2004, no melhor momento da carreira das quatro e prestes a fazer a melhor marca sulamericana da prova até hoje
Deixe um comentário