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  • Um dos melhores masters do Brasil, Ondamar Silva, 75 anos, coleciona recordes e medalhas

    12/06/2012 por Beatriz Nantes em Natação, Notícias, Personagens / Sem comentários

    Ele está se preparando para duas competições principais este ano: o sulamericano, em Manaus, e o Brasileiro, em Porto Alegre. Nada todos os dias, comandado pelo head coach da Unisanta, Márcio Latuf. Tem recordes brasileiros, sulamericanos e mundiais no currículo. Faz musculação com exercícios específicos voltados à natação, se alimenta de forma adequada e toma suplementos um mês antes da competição. Ondamar Silva é um nadador profissional – a introdução e a foto da saída da prova ao lado não deixam mentir. O detalhe é que tem 75 anos.

    Nadador de costas na juventude, a história de Ondamar se confunde um pouco com a história dos próprios clubes de Santos. Passou pelo Saldanha quando o clube ainda não tinha piscina e os treinos ainda aconteciam no mar, pelo Colégio Marçal, atual Santa Cecília, que pertence à Unisanta, onde treina hoje e uma das cinco maiores potências do país na natação, e pelo Internacional de Regatas, no início da década de 1950. “Antes treinávamos no mar, depois fizeram um tanque no Saldanha e não dava pra dar a braçada completa, que comia a ponta dos dedos! Não era azulejado, era cimento. Quantas vezes esse meu dedo não ficou sangrando..”

    Parou de nadar quando começou a trabalhar, ainda em meados da década de 50. Ficou parado por anos, até que, mais uma vez, uma característica de Santos mudou tudo. Já no início dos anos 2000, preocupado com os netos e o mar – Ondamar chegou a resgatar três pessoas na Ponta da Praia  e tinha pavor da ideia de afogamento – passou a levá-los para treinar. “Elas não tinham tempo, então eu comecei a levar. Era das 10h as 11h da manhã na Multisports, todos os dias. Foi dois meses assim, eu ficava lendo o jornal, e eles nadando. Um dia eu pensei “porque em vez de ficar aqui esperando, eu não nado junto?”

    Assim começou uma das carreiras de sucesso da natação master brasileira. No FINA top 10 do ano passado, ranking que compila os dez melhores tempos do mundo em cada faixa, ele aparece em quatro provas individuais na faixa 75+, de nadadores de 75 a 79 anos. No brasileiro Master realizado no Maranhão, em abril deste ano, bateu junto com três companheiros o recorde mundial do revezamento 4×200.

    No começo, o retorno às piscinas não foi tão fácil. “No primeiro dia, nadei 100 metros e não aguentei! O Juvenal [técnico da Multisports], falou que eu tinha um estilo bonito, e no outro dia me perguntou se eu não queria ser parte da equipe master. Duas semanas depois já teve uma travessia e depois o Adalberto Maraiani [competição master realizada em Santos]“. Ondamar nadou a travessia, acompanhado de Rogério Lancelloti, nadador de costas de Santos, e venceu sua categoria.

    [Em 2002, fiz todo o Circuito Paulista de Maratonas Aquáticas. Me lembro claramente de uma das etapas, realizada justamente em Santos, na Ponta da Praia, com um tempo péssimo, mar mexido, frio, onde a prova quase foi cancelada. Ondamar começou a contar os detalhes de sua re-estreia, em uma travessia com tempo ruim, maré subindo, em Santos, com percurso reduzido pela organização... lembrei que a estreia dele tinha sido em 2002. Eu estava nessa travessia. Mal podia imaginar que ela seria a primeira de tantas medalhas que decoram a parede do apartamento onde, dez anos depois, eu estaria entrevistando um campeão.]

    De lá para cá, nadou cerca de 70 travessias. “Teve ano que fiz 28. Nadava a prova de mil metros, descansava e fazia a de três quilômetros. Só que comecei a ter objetivo de focar mais na piscina, e não dava porque tinha muito conflito de data, e também a postura de nado é diferente”. Hoje, Ondamar só nada travessia quando faz parte do programa de provas de grandes competições de piscina de master, como o Sulamericano (já foi para três), Panamericano (esteve na competição disputada no Rio de Janeiro ano passado e saiu com sete ouros na piscina e o troféu de campeão da maratona aquática, nadando a prova de 3 mil em uma temperatura de 19º) e Brasileiro.

    Ainda durante o tempo da Multisports, em piscina de 25 metros, passou a revezar os treinos com a piscina da Unimonte, de 50 metros. Depois que a academia fechou, em 2007, foi treinar na Unisanta, piscina que é palco de seus treinos diários até hoje, e onde também faz musculação.

    As competições mais marcantes foram o primeiro Sulamericano, na Venezuela, onde ganhou 10 medalhas e disputou a travessia na Ilha Margarita (“nunca vi uma água tão salgada. Fiz em 43 minutos os 3km, mas acho que foi de sede!”) e o All American, em 2005, no Ibirapuera, onde quebrou três recordes sulamericanos e das Américas.Ondamar sempre viaja acompanhado de sua esposa, Silvia, que aponta como sua fã número 1, que o ajuda diariamente na rotina e está sempre na torcida na arquibancada.

    Atualmente, Ondamar está em fase regenerativa, treinando “apenas” 2 mil metros por dia. “Uma vez o Márcio deu 30×50 com palmar, descansando 20 segundos. Quando chegou no 26º meu braço já não tinha força”. No Master, por motivos óbvios, a cada ano você piora o tempo. “Com 69 anos, eu fazia 2’37 de 200 livre em piscina longa. E o meu recorde de 70+ já é 2’47. Deu 10 segundos em cinco anos. Agora que estou com 75 anos, faço 2’52, 2’53. Você piora, então o jeito é procurar elementos e caminhos para diminuir a queda. Tem que fazer o que? Treino, treino, treino, comer certinho, tomar os suplementos (dois comprimidos de BCAA por dia, um mês antes da competição) certinho”.

    E como qualquer atleta, claro que fica nervoso:  “Quando você começa a chegar perto, na área de balizamento, a juíza chama, acelera o coração. Você pode ser o absoluto, mas está vivo, a adrenalina começa”.

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