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  • Quanto vale o PAN?

    18/10/2011 por Beatriz Nantes em Paixão, PAN, Reportagem / 1 Comentário

    É normal em épocas de PAN ouvir as pessoas fazendo piadinhas sobre a inutilidade da competição. “De que vale ser ouro no PAN e depois chegar nas Olimpíadas e ficar em quinto?”, “Os EUA só vem com a seleção B”, ou o eterno complexo de inferioridade “Só o Brasil liga pra essa competição”.

    Primeiro de tudo: o PAN se chama PAN porque é o PAN, e não Olimpíadas, e não Mundial. Nenhum atleta é ingênuo o bastante para achar que um pódio no PAN equivale a uma medalha olímpica.

    Segundo: você sabe o que significa participar de uma Seleção Brasileira? Que seja de categoria: são pouquíssimos que conseguem. Chegar a uma seleção brasileira, ou do país que for, significa demais. Penso na natação, esporte mais familiar a mim: desde a categoria infantil, são centenas de pessoas competindo, já há um filtro dado pelos que conseguem índices para chegar aos campeonatos estaduais/brasileiro, os que conseguem final, os que conseguem pódio, os que continuam nadando apesar do que vai surgindo ao longo do caminho. Os que chegam ao absoluto e conseguem se manter no topo são a elite da nossa natação, e creio que assim seja para os outros esportes. Salvo raras exceções de atletas que se acomodam nesse patamar e são de provas/categorias relativamente fracas, faço uma reverência a todos eles pela capacidade de chegar aonde muitos gostariam: manter sua paixão, o esporte, como sua atividade profissional, e viver disso. Por si só, isso já é lindo.

    Terceiro: ninguém duvida que o nível no PAN é mais fraco na maioria dos casos (provas como o 100 livre tiveram um resultado muito forte, assim como o taekwondo masculino até 58 kg, com a final disputada entre um vice campeão olímpico e um vice campeão mundial). Mas a preparação olímpica também é feita das competições intermediárias, e isso vale para os atletas que chegaram às Olimpíadas para chegar às finais ou participar e também para Cielo, que vai lá em busca de dois ouros – se o PAN fosse tão desimportante, ele não teria chegado em Guadalajra polido e se preparado para fazer o melhor tempo de sua vida sem trajes.

    Cielo comemorando o ouro no PAN de 2007,em uma vitória extremamente importante em sua jornada rumo ao ouro olímpico um ano depois

    Hugo Hoyama e Thiago Pereira estão sendo colocados pela imprensa em um disputa por quem carrega mais ouros e medalhas em PANs. E nenhum deles tem medalha olímpica. Tenho quase certeza que Thiago trocaria todas as medalhas do PAN por uma de Olimpíadas, mas enquanto ela não chega – e talvez, espero que não mas pode acontecer, ela nunca chegue – não vejo  o que há de tosco ou ridículo em brilhar no PAN. As Olimpíadas sempre serão o objetivo máximo, mas que bom para nós que haja outras competições para torcer no meio do caminho e, principalmente para os atletas, que bom que podem colocar objetivos de médio prazo e ganhar motivação extra durante a jornada em competições tão legais como o PAN.

    Por fim, lembro que o esporte é feito também de histórias de superação pessoal. Tenho a opinião que sempre haverá mais gente merecedora do que lugares no pódio: o esporte é assim, e ganhar requer uma combinação de muita coisa, há muitos que treinam demais e não conseguem chegar lá.

    Por exemplo, a história de Ailson da Silva contada pela UOL. Ele aprendeu a remar treinando em barcos artesanais no Rio Negro (Amazonas), passou fome na infância e foi vice-campeão mundial sub-23 em 2009, e agora chegou a seu primeiro PAN. Talvez Ailson nunca ganhe uma medalha olímpica e sequer chegue a uma Olimpíada, mas tem no PAN a possibilidade de se consagrar.

    Ou o 200 borboleta de Leo de Deus ontem. O tempo dele não foi forte, o nivel da prova não foi nada digno de nota, mas ele venceu em seu primeiro PAN uma prova linda, e as circunstâncias seguintes deram um toque de drama (para alegria da Record) que tornou a prova inesquecível para ele. Independente do que venha nas Olimpíadas do ano que vem e nas próximas, tenho certeza que essa prova ficará marcada para ele (que acabou altamente exposto para todo o Brasil, o que é bom para ele) e dará folêgo extra para o treinamento. Se chegar em Londres e ele não conseguir subir ao pódio, isso invalida esse momento que viveu em Guadalajara?

    Não vejo porque valorizar essa histórias e não valorizar os ouros de Thiago, Hoyama e tantos outros. Tenho orgulho de ver o Brasil no PAN e poucas vezes vivi um clima tão contagiante como o que tomou conta do Rio-2007 e tive o privilégio de assistir.

     

     

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    1 Comentário

    • Clayton Miranda

      Parabens, excelente artigo.
      Serviu muito para mim, sempre fui muito crítico do Pan.
      Acredito que a maior crítica não seja em relação a competição em si, mas a tentativa de parte da nossa imprensa em tentar passar a idéia de que se trata de uma competição, em grau de importancia, semelhante a Olimpiada.

      24 out 2011 05:10 pm
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